segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

SANTO INACIO DE LOYOLA............vale a pena


O dia em que Santo Inácio quase matou um mouro na base do uni-duni-tê

 181
 
 567
LAMPIAOEm 1522, em uma bela tarde do mês de março, um cavaleiro muçulmano encontrou o nobre Iñigo de Loyola – o futuramente célebre Santo Inácio – na estrada que conduzia a Barcelona, e propôs que ambos seguissem juntos pelo caminho. Ao ser questionado sobre o rumo que tomava, Iñigo respondeu que ia à Agualada e, depois, à Capela da Santíssima Virgem. Foi então que o mouro expôs suas dúvidas sobre avirgindade perpétua da Mãe de Jesus…
O mouro aceitou o fato de Nossa Senhora ser virgem antes do parto, mas não conseguia compreender como ela poderia ter permanecido virgem após o parto. Já sem argumentos para contestar o fidalgo cristão, logo antes de esporear sua mula e partir num galope acelerado, o mouro disse:
– Não! Por Maomé! A Mãe de Jesus não conservou a virgindade!
Profundamente indignado com essa blasfêmia, Iñigo pensou em perseguir o muçulmano e matá-lo. Pensava consigo:
– Aquele desgraçado ousou insultar horrorosamente a divina Mãe do meu Soberano Senhor! E eu, fidalgo, eu, cavaleiro da nossa soberana Senhora e Mestra, sofrerei este ultraje feito à sua honra sem procurar vingá-lo?! Não passarei a minha espada através do corpo desse maldito muçulmano?! Não, não será assim! Ínigo de Loiola não pode tornar-se culpado de semelhante felonia! Corramos após esse infiel, e, pondo-lhe o pé no pescoço, forcemo-lo a confessar que ele é um miserável blasfemador e que a puríssima Senhora e Rainha do Mundo (…) conservou sempre a sua santíssima virgindade!… (1)
santo_inacio_de_loyola_cavaleiroÉ importante notar que o jovem Iñigo era recém-convertido, e há poucos dias havia abandonado o castelo de sua família e a vida de cavaleiro para servir unicamente a Deus. Portanto, não havia ainda renunciado de todo ao seu velho jeitinho de resolver as coisas (na base cacete!); faltava-lhe também um conhecimento mais profundo da doutrina e da espiritualidade cristãs.
Iñigo já estava seguindo à caça do muçulmano, quando deteve o trote de seu cavalo e considerou:
– Ser-me-á permitido matar um homem para a glória e honra da minha Soberana? Ignoro-o completamente. Na dúvida, entreguemos o negócio ao juízo de Deus.
Estando ele diante de uma bifurcação, teve abrilhante ideia – de jerico – de soltar o seu cavalo na estrada e deixar que seguisse livremente o caminho; se o bicho tomasse o rumo de Barcelona, ele perdoaria o mouro e levaria o desaforo pra casa; se, porém, o animal seguisse pelo mesmo caminho do blasfemador, Iñigo entenderia que era um sinal de Deus para que perseguisse o homem e o atravessasse com a sua espada. Ô mái God…
Certamente, o Senhor teve misericórdia do seu humilde servo, e fez com que o animal tomasse a direção de Barcelona. O pescoço do mouro permaneceu intacto, bem como a alma do jovem Iñigo. É bem provavel que a sua conversão profunda tenha lhe rendido méritos de sobra para compensar sua trapalhada de santo principiante, e assim o Espírito o socorreu, dignando-Se a guiá-lo pelos passos de um cavalo. Certo, mas vamos combinar: não dá para basear as decisões da nossa vida em joguinhos como esse, nem tampouco confiar em nossas inclinações pessoais.
Essa história, revelada pelo próprio santo a seus companheiros anos mais tarde, ilustra bem o mato sem cachorro em que vivem os cristãos que não contam com um diretor espiritual ou com amigos católicos que lhes sustentem no caminho da fé. E assim, diante dos desafios do dia a dia, dos momentos difíceis, das decisões importantes, muitas vezes ficam mais perdidos do que cego em tiroteio, sem saber que rumo seguir. E é quase inevitável que fiquem mais vulneráveis aos conselhos de pessoas impregnadas pela mentalidade do mundo.
No primeiro período após a sua conversão radical, Santo Inácio viveu como eremita e mendigo. Sua experiência de penitência e solidão intensas foi muitíssimo frutífera, é verdade, mas também lhe expôs a momentos de confusão e desespero (como quando se sentiu tentado ao suicídio). Mas ele logo percebeu que o Senhor lhe reservava outro destino: na Universidade de Paris, o santo reuniu um pequeno grupo de amigos, que se encontravam para falar das coisas da vida, das coisas de Deus e para fazer os Exercícios Espirituais. E assim, o cavaleiro solitário acabou sendo o fundador de uma das mais importantes comunidades religiosas da Igreja: a Companhia de Jesus.
Seria muita leviandade, e até mesmo um pecado, desmerecer a vocação dos antigos eremitas – cristãos que viviam em total isolamento e penitência, em lugares ermos –, que tantos santos gerou para a Igreja; entretanto, é fundamental notar que o cristianismo é, essencialmente, uma experiência de fé comunitária. É quase impossível sermos bons cristãos se ficamos isolados, se não contamos com a amizade de outros cristãos, mais maduros na fé, para nos inspirar e nos sustentar.
Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. (Mateus 18, 19-20)
Com essas palavras, Jesus nos ensina o quanto é agradável a Deus ver os cristãos unidos em Seu nome. É claro isso não desvaloriza a oração individual, e sim, mostra como é fundamental que vivamos a dimensão comunitária da nossa fé. Para que sejamos mais fortes e perseverantes, os cristãos precisam conviver, e não só em momentos de formação espiritual. Precisamos ser amigos, sair para comer e nos divertir juntos, jogar conversa fora. Quanto mais tempo dedicarmos para construir amizades cristãs, mais forte será o cimento que nos une, como tijolinhos, para formar a Igreja.
Dou aqui um testemunho pessoal: na minha época de estágio, recebi a tarefa de bolar uma campanha para o Dia Mundial de Combate à AIDS, que seria divulgada por meio de cartazes espalhados em toda a UERJ. Eu não sabia como fazer algo que pudesse ser aprovado pela chefia sem fugir da recomendação do uso da camisinha, e não queria me recusar a fazer o trabalho, para não passar a imagem de ser pouco profissional. Então, liguei para um amigo católico que é ginecologista, e ele me deu uma ótima ideia: focar na questão do combate ao preconceito em relação às pessoas portadoras do HIV. Segui a dica e me dei bem!
Como essa, eu teria muitas outras histórias para contar. Se você não tem um diretor espiritual – que, em geral, é um sacerdote ou membro de uma ordem religiosa – e não prioriza o convívio com amigos católicos, procure se inserir dentro desta realidade. Ou então, quando estiver numa dessas encruzilhadas da vida, faça uni-duni-tê…
daniel_san_karate_kid
*****
Para quem deseja saber mais sobre a vida dos eremitas, ou acha que isso não existe mais, recomendo um site bem curioso: o Carmelitas Eremitas. Achei por acaso, fuçando na Internet. Pelo que vi, mostra a experiência de uma comunidade de monjas carmelitas que vive isolada em meio aos montes e às matas de Atibaia-SP. O interessante é que, apesar de ser uma proposta de vida eremítica, não abre mão de certas atividades comunitárias (coisa impensável para os eremitas antigos). Bacana!
Nota:
(1) Daurignac, J. M. S.. Santo Inacio de Loiola: fundador da Companhia de Jesus. Apostolado da Imprensa, 1937.

Nenhum comentário:

Postar um comentário