segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

CATOLICOS VOLTEM PARA CASA . DUBLADO EM PORTUGUES


Delator liga Sarney ao esquema dos irmãos Vieira


Investigação

Delator liga Sarney ao esquema dos irmãos Vieira

Cyonil Borges disse ao MP que Paulo Vieira conseguido tramitar processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney; senador nega

O presidente do Senado, José Sarney
Presidente do Senado, Sarney nega envolvimento com Paulo Vieira (Antonio Cruz/ABr)
Delator do esquema de venda de pareceres em órgãos federais, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges disse que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor dos interesses da organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia enviada ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a tramitação de processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O senador nega.
De acordo com o inquérito da Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a Tecondi em auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento de áreas do Porto de Santos, no litoral paulista. A Polícia Federal sustenta que o ex-diretor ofereceu propina de 300 000 reais para que Cyonil elaborasse parecer favorável à empresa.
Em 2007, o ex-auditor se manifestou contra a permanência da Tecondi no terminal paulista. O processo foi remetido ao gabinete do então relator, Marcos Vinícius Vilaça, hoje aposentado.
Entre 2008 e 2010, Vieira teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria de Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro parecer, favorável à empresa, ser elaborado.
Na representação, de 15 de fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o ex-diretor teria citado o senador. "Paulo Vieira disse que pediria a José Sarney, que indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo à secretaria de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção." Rejeitado pelo Senado, Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de Sarney. Ao MPF, o delator contou que o lobby renderia frutos a Vieira, pois os donos da Tecondi o auxiliariam em campanha a deputado federal. 
Outro lado – O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou ingerência no processo do TCU que discute o arrendamento de áreas do Porto de Santos à Tecondi. Segundo a assessoria do senador, ele não fez qualquer gestão a respeito e as declarações de Cyonil Borges são "inverídicas".
Em e-mail enviado por sua assessoria, Paulo Vieira disse: "Nego. Nunca falei com Sarney sobre isso". Segundo ele, o processo foi encaminhado a São Paulo pelo ministro do TCU José Múcio, no início de 2010, atendendo a um pedido da Codesp. O ex-diretor informou que, à época, não era ainda conselheiro da companhia. 
Múcio disse que não houve conversa com Sarney ou Paulo Vieira sobre o caso da Tecondi. De acordo com a assessoria de gabinete do ministro, nenhuma decisão dele e do plenário do tribunal no processo foi favorável à empresa, apesar do parecer de Cyonil sugerir o contrário. E, além disso, até a Operação Porto Seguro, não se sabia que o relatório do auditor era comprado.
(Com Estadão Conteúdo)

Morte de bovinos é a cara da seca



Morte de bovinos é a cara da seca

Projeção é de que cerca de 40% do rebanho do Nordeste será perdido por causa da estiagem, que dura 1 ano e 8 meses

19 de dezembro de 2012 | 2h 07
Sergio Torres, Enviado especial - O Estado de S.Paulo
PENAFORTE (CE) - Quem viaja pelas estradas entre cidades atingidas pela pior seca das últimas décadas no Nordeste se espanta com a sequência interminável de carcaças de bovinos a apodrecer ao lado das pistas. A morte de cabeças de gado, aos milhares, é, para o viajante, o impacto mais visível e chocante da estiagem de quase dois anos que afeta 12 milhões de sertanejos de oito Estados nordestinos.
Neto Lucas, ao lado de boi morto: sem chuva há quase 2 anos - Marcos de Paula/AE
Marcos de Paula/AE
Neto Lucas, ao lado de boi morto: sem chuva há quase 2 anos
Um exemplo da mortandade está no km 533 da BR-116, quase na chegada da cidade de Penaforte, a última do Ceará antes da divisa com Pernambuco, na região do Cariri. À vista, na margem direita da estrada, os corpos de seis bois e vacas representam um aviso sinistro para os passantes. Depois dali, a quantidade de carcaças é tanta que chega a ser um componente da paisagem, como são os arbustos cinzentos e o solo de pedra e cactos.
São diversos cálculos - todos alarmantes - de quantos bovinos já morreram e vão morrer, pois antes de fevereiro de 2013 a seca não deverá acabar, segundo previsões meteorológicas.
O diretor de Sanidade Animal e ex-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes, estima que só neste ano o Nordeste perderá ao menos 1 milhão de cabeças de gado por causa da seca interminável.
"Já tivemos secas intensas, mas, com essa intensidade, não vejo há 30 anos. Para os pequenos produtores, a estiagem é mortal. São eles os mais afetados", comenta o dirigente do CNPC.
Para uma aferição mais precisa, Guedes recomenda o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária da Paraíba, Mário Borba, especialista e estudioso dos vários problemas provocados pela seca no Nordeste.
Borba é bem mais pessimista. Ele sustenta que a situação é muito mais grave que a prevista pelo dirigente do CNPC. O presidente prevê que 20% do rebanho bovino terá perecido em todo o Nordeste ao final do período sem chuvas, com exceção do Maranhão, único Estado que não é afetado.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no relatório da pesquisa Produção da Pecuária Nacional, o Nordeste tinha 29.583.041 cabeças de gado em 31 de dezembro de 2011. Os 20% de mortes estimadas pelo pecuarista paraibano significam quase 6 milhões de bovinos. "Nossa projeção é de que 20% morrerão; 10% serão abatidos antes da hora, porque o dono não vai esperar o gado morrer; e 10% serão vendidos para outros Estados, como Pará e Maranhão, por qualquer dinheiro. Ou seja, ao fim da seca, o Nordeste terá perdido 40% de seu rebanho, um prejuízo incalculável", disse Borba.
Tragédia animal
Embora a visão impressione, as carcaças expostas nas estradas são uma parte menor da tragédia animal que assola o sertão nordestino. Aqueles bois e vacas morreram em propriedades vizinhas à pista. Por hábito, os proprietários tiram os restos mortais de suas terras e os abandonam onde não há dono, os acostamentos.
Nas terras afastadas das estradas, longe dos olhos dos viajantes, a mortandade é mais expressiva. No alto da Chapada do Boqueirão, área erma do município de Bodocó, no sertão pernambucano, os bovinos morrem como se afetados por uma praga.
Não sobrou um animal do rebanho de 50 cabeças dos moradores da localidade de Soturno, no alto da serra. A falta de água e de pasto matou todos os bois e vacas. As carcaças ficam por ali mesmo.
"Os bezerros a gente nem conta. Vão morrendo e a gente deixa na roça mesmo", conta Francineide Rodrigues de Sena, de 19 anos, moradora do sítio Logrador.
Radicado há três anos na cidade de Salgueiro, polo econômico do sertão de Pernambuco, o engenheiro Arão de Lavor busca comparar a seca atual com outras ocorridas ao longo dos séculos no Nordeste brasileiro. "Antes as secas matavam gente e bichos. Hoje só matam bichos", disse ele, referindo-se à facilidade nos deslocamentos e no acesso a meios de transporte, e aos benefícios e auxílios sociais, como o Bolsa-Família e cestas básicas de alimentos, dados aos mais pobres pelos governos federal e estaduais. Assim, a vítima da seca consegue sobreviver, apesar da gravidade da situação.
Exceção, criador não leva carcaças à beira da estrada
Exceção no grupo de pequenos pecuaristas do qual faz parte, Antônio Neto Lucas, de 36 anos, se recusa a levar para a beira de estrada os bois que têm morrido em seu sítio na margem direita da BR-122, ligação entre os municípios cearenses da Chapada do Araripe, como Crato, e o sertão pernambucano.
O argumento do criador é o de não considerar correto o despejo das carcaças em áreas públicas. "O boi morreu aqui, então aqui ele fica. Acho errado jogar fora", disse, na manhã do dia 13.
O sítio, chamado de Boqueirão, em referência à serra próxima, fica junto à rodovia federal, entre os municípios de Granito e Bodocó, em Pernambuco.
Para levar os animais mortos até a lateral da pista, bastava a Neto Lucas carregá-los por não mais que 20 metros. "O cheirinho não está bom, mas vai ficar aqui mesmo", afirmou ele, apontando para um bovino que apodrecia a poucos metros da casa em que vive. Ao lado da carcaça, circulam bois e vacas com as costelas nítidas sob o couro.
O pequeno criador já contou a morte de 15 dos 40 bovinos que tinha quando a estiagem começou. Ele previu que mais animais não resistirão à falta de água e de alimentos, já que a pastagem e os arbustos ressecaram. "Vai morrer muito mais ainda. Aqui não chove há 1 ano e 8 meses", disse ele, que não faz cálculos dos prejuízos financeiros no período. "Nem sei isso", desconversou.
O depoimento de Deusdete Francisco dos Santos, de 62 anos, revela outro drama das populações sem chuva: o êxodo rural, já que as cabeças de gado estão morrendo. Ele fala que morreu toda a criação da fazendinha em que trabalhava, em Bodocó. "Saí de casa por causa dessa seca. Ficou ruim arrumar trabalho por aqui. Serviço, não tem mais. Na minha idade, não sei como será", lamentou. 

Os inúteis caminhos para 'derrotar a seca'


Os inúteis caminhos para 'derrotar a seca'

29 de novembro de 2012 | 23h 54

WASHINGTON, NOVAES, JORNALISTA, E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR,




  





O Estado de S.Paulo
Com a cobertura mais frequente que a televisão vem dando nas últimas semanas à questão da seca no Semiárido nordestino, vai-se de espanto em espanto, diante da gravidade do panorama, da insuficiência - para não dizer ausência - de providências eficazes do governo federal e das informações sobre tudo o que se poderia fazer por caminhos competentes, mas não se faz. E tudo isso na mesma hora em que se vê a teimosia do foco oficial no projeto de transposição de águas, como se ele fosse o santo milagreiro - quando não é, já está custando quase o dobro do orçamento inicial (de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões), com vários trechos parados, outros já necessitando de obras reparadoras e outros ainda, de novos "aditivos" nos orçamentos. Inacreditável.
Diz o Operador Nacional do Sistema Elétrico (Estado, 31/10) que o último mês de outubro foi o mais seco em toda a região nos últimos 83 anos. As opiniões de especialistas asseguram que se trata da mais forte estiagem entre 30 e 50 anos. Em depoimento na audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, o diretor da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional (Agência Brasil) afirmou que 10 milhões de pessoas foram atingidas em 1.317 municípios.
Só em Pernambuco, segundo o engenheiro José Artur Padilha, criador do projeto Base Zero (Estado, 19/11), são 1,18 milhão de pessoas afetadas diretamente, enquanto mais 3,67 milhões sentem os efeitos em 122 dos 184 municípios do Estado. Só nas lavouras de subsistência as perdas já chegam a 370 mil hectares. Os rebanhos pernambucanos perderão15%, entre bovinos, ovinos e caprinos (remaatlantico, 7/11). Na Paraíba estão sofrendo 2,3 milhões de pessoas, ou 70% da população, em 198 dos 223 municípios, com situação de emergência decretada em 170 cidades. Na Bahia são 250 municípios em emergência. Em Caém, a 333 quilômetros de Salvador, não chove há um ano e meio (Estado, 31/10). No Piauí são 215 dias sem chuva, 200 municípios em emergência. E muitos especialistas já dizem que as chuvas só virão em 2013.
Será todo esse quadro uma fatalidade? Nada a fazer? Na mesma audiência na Câmara dos Deputados, o professor João Abner, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialista em recursos hídricos que há décadas se dedica ao problema, assegura que não (Agência Brasil, novembro/2012). Segundo ele, fome, seca e perdas poderiam ser evitadas se houvesse programas de abastecimento de água como o Luz para Todos. "Tem água sobrando para consumo humano e animal", assegura. "Tem estoques de água suficientes para atender plenamente, mesmo em época como agora. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima do Rio São Francisco, em grandes reservatórios." Só que não há sistemas de abastecimento ligados aos açudes, que servem apenas aos grandes proprietários rurais. E "com menos de 20% da disponibilidade hídrica dos reservatórios" se atenderia a toda a demanda local.
Mais surpreendente ainda, diz o professor Abner que "o Semiárido brasileiro é um dos sistemas ambientais mais chuvosos no mundo, mas o acesso à água não está democratizado". Há 60 mil açudes reservados para poucos. E 95% da água se perde na evapotranspiração (!). Um programa do tipo Água para Todos custaria menos de R$ 20 por pessoa. Menos que o custo de um carro-pipa, lembra ele; um terço do custo da transposição do São Francisco.
Não é ele apenas que tem visões dessa natureza. Na mesma ocasião, o professor João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, depois de acentuar que metade da população "sofre com seca e fome", lembrou que 80% das secas são "no miolo da região", por má distribuição dos recursos. Esta não atende a diretrizes já definidas há décadas, inclusive pelo Ministério do Meio Ambiente, segundo as quais é preciso ter "estratégias de convivência" com o Semiárido - e não tentativas de "combater a seca". A propósito, há alguns anos, quando fazia um documentário para a TV Cultura sobre o tema, o autor destas linhas ouviu do consagrado e experiente escritor Ariano Suassuna (que cria cabras na região) que "tentar combater a seca no Nordeste é o mesmo que tentar impedir que caia neve sobre a Sibéria".
Também o professor João Suassuna enfatiza o problema de manter a água estocada em reservatórios (só no Ceará, 8 mil, com capacidade para 18 bilhões de metros cúbicos), sem distribuição. Para ele, mesmo depois de concluída a transposição do São Francisco persistirá o problema das populações que vivem em pequenas comunidades isoladas, aonde não chegarão adutoras - os 12 milhões de pessoas para quem "será levada uma caneca de água", no dizer do ex-presidente da República. Por isso, em lugar de transpor água, o governo deveria pensar nos projetos contidos desde 2006 no Atlas do Nordeste de Abastecimento de Água, coordenado pela própria Agência Nacional de Águas - e que custariam, para executar, menos de metade (R$ 3,3 bilhões) do investimento na transposição e atenderia 34 milhões de pessoas.
E há mais. Desde o final da década de 90 o engenheiro José Artur Padilha vem experimentando - e viabilizando - em Afogados da Ingazeira (PE) o sistema chamado de Base Zero. São barragens construídas em leitos de rios secos, só com pedras, em cujos interstícios, sem argamassa, se depositam na época das chuvas sedimentos e materiais orgânicos que fertilizam a área no entorno. A água infiltrada e retida nos períodos chuvosos permite o plantio na seca. E cada bacia assim fertilizada pode tornar viável o desenvolvimento adequado para 40 a 50 famílias em 2 mil hectares. No Polígono das Secas, com 800 mil quilômetros quadrados, seria possível atender por esse caminho 2 milhões de famílias. Desde 1999 (6/5) este escriba comenta o projeto neste espaço. Mas os formuladores de políticas não se comovem.
Soluções há. Sem tentar, inutilmente, derrotar a seca.

Governo desembolsa 18% do previsto no ano e obra de transposição avança pouc


Governo desembolsa 18% do previsto no ano e obra de transposição avança pouco

Valores reservados no Orçamento efetivamente pagos na construção de canais para levar a água do rio São Francisco para o sertão nordestino ficam em R$ 173 milhões

30 de dezembro de 2012 | 22h 40




Eduardo Bresciani, de O Estado de S. P


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BRASÍLIA - O ritmo lento das obras da transposição do Rio São Francisco reflete as dificuldades que o governo vem enfrentando para levar adiante os investimentos na área de infraestrutura no País. Até 20 de dezembro, só 18% do Orçamento disponibilizado para 2012 havia sido desembolsado pelo Ministério da Integração Nacional. A execução se restringiu, basicamente, a restos a pagar dos anos anteriores. Com isso, o cronograma da megaobra de Dilma começou a ser afetado.
Uma nova licitação foi lançada no final do ano e pode levar para 2014 a inauguração do trecho piloto da obra, antes previsto para entrar em funcionamento ainda neste dezembro. O governo, apesar disso, mantém para 2015 a previsão de conclusão total da obra - que é a maior do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste.
O Ministério da Integração Nacional atribui a baixa execução financeira aos contratos que tiveram de ser rescindidos com algumas empresas, criando a necessidade de abertura de novas licitações, algumas das quais só serão abertas em março. No eixo leste, só R$ 32,4 milhões foram pagos do Orçamento deste ano.
A dotação inicial era de R$ 439,9 milhões, mas, diante das dificuldades de execução, foi reduzida para R$ 149,9 milhões. No eixo norte, os recursos disponíveis foram aumentados, chegando a R$ 790 milhões, mas pouco mais de R$ 140 milhões foram efetivamente pagos.
A obra, como aconteceu com boa parte dos investimentos do governo federal, foi tocada basicamente com a sobra de orçamentos anteriores. Na Transposição foram aplicados R$ 501 milhões de restos a pagar. O valor é pouco mais da metade do que o governo tinha de sobra. Para 2013, a cota de restos a pagar chegará a R$ 1,4 bilhão.
Atrasos. O calendário da Transposição tem sido afetado, ainda que o governo se recuse a revisar a previsão de conclusão para 2015. O projeto piloto, um trecho de cerca de 16 quilômetros no interior de Pernambuco, tinha previsão de inauguração agora em dezembro, mas as obras estão longe do fim.
O governo lançou um novo edital em novembro e o contrato com o consórcio que terá a responsabilidade de terminar o trecho será assinado somente em 2013. O ministério prevê, agora, que a água do São Francisco comece a correr nesse trecho em setembro de 2013, mas a licitação dá prazo de um ano para que o novo contratado conclua o serviço, podendo estender as obras para 2014.
O atraso no projeto piloto frustra os planos do ministro Fernando Bezerra Coelho, que contava com a inauguração para afastar as críticas ao ritmo da obra, lento desde o início do governo Dilma Rousseff. O trecho é considerado importante por reunir alguns dos principais elementos da obra, como barragem, ponte e aqueduto, além dos canais, possibilitando um primeiro teste prático de como a Transposição vai funcionar.
O Orçamento total da obra chegou a R$ 8,2 bilhões e R$ 3,5 bilhões já foram investidos. Dos 16 lotes, sete estão em andamento e apenas um concluído. Foram realizadas rescisões parciais em alguns trechos e novas licitações serão lançadas até março de 2013, segundo a previsão da pasta.
O ministério informou ainda que dois lotes estão com as obras paralisadas. As empresas já foram advertidas e multadas. Foi aberto ainda um processo para suspendê-las de licitações da pasta e declará-las inidôneas, o que impediria sua contratação por qualquer outro órgão público.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Míriam Leitão..........COLUNA NO GLOBO..O ano que não esquentou


Enviado por Míriam Leitão 
30.12.2012
 | 
9h00m
COLUNA NO GLOBO

O ano que não esquentou

 Seria um reflexo no espelho do ano anterior. Essa era a aposta geral. O ano de 2012 começaria frio mas esquentaria ao longo dos meses e trimestres e terminaria dezembro num ritmo de 4%; o oposto de 2011. Mas os indicadores foram decepcionando. O país estagnou, a indústria encolheu, o calote aumentou, a inflação permaneceu alta e o país investiu muito pouco.
No mundo, houve problemas que agravaram a nossa situação. A Europa sangrou o ano inteiro, mas terminou 2012 melhor do que começou, felizmente. A união monetária esteve a um passo de se fragmentar e agora se fortalece na preparação da união bancária. Os Estados Unidos namoraram o abismo, testando o limite da polarização política, mas o pior foi evitado com a reeleição de Obama. O programa do Partido Republicano revisitava ideais de intolerância e de abandono dos mais pobres, incompatíveis com os valores contemporâneos.
O que mais atrapalhou o Brasil foi o Brasil mesmo. O investimento público é menor do que pode e muito menos do que se precisa. Os obstáculos ao investimento privado crescem em vez de diminuir. Quando escolhe projetos e modelos para pôr o dinheiro público, o governo tem errado.
É a transposição do Rio São Francisco que fica pela metade, quando o que deveria ter sido escolhido desde o início era fortalecer o Velho Chico; hidrelétricas na Amazônia que repetem alguns velhos erros; o trem-bala que não sai do lugar, mas seu custo decola a cada revisão. Melhor faria se o mesmo dinheiro fosse investido em outros projetos. Em sumo: investir errado é pior do que não investir. Há cinco trimestres consecutivos cai o investimento no Brasil.
O governo gastou o ano com medidas para levantar o PIB, para usar a expressão do ministro Guido Mantega, autodeclarado “levantador de PIB”, sem êxito. Redução de IPI, clamor para que a população se endivide, mais dinheiro subsidiado para os mesmos grupos empresariais não foram suficientes para produzir um crescimento que se sustente
A inflação continuou alta. Se forem descontados os efeitos do congelamento da gasolina, redução do IPI e mudança da forma de cálculo do IPCA, pode-se dizer que ela está rondando a 6,5%, o que é altíssimo dadas as circunstâncias. A inflação de alimentos termina o ano em torno de 10%
Mas a economia vive de contrastes e há boas notícias, felizmente. O mercado de trabalho está forte, e o desemprego, em níveis historicamente baixos. Os juros caíram de 11% para 7,25%, diminuindo o custo da dívida pública. O dólar subiu, melhorando a vida do exportador, mas encareceu a importação.
Foi de perder a conta a quantidade de pacotes, pacotinhos e pacotões para reativar a indústria automobilística: redução de IPI, liberação de compulsório dirigido a financiamentos, aumento da barreira comercial contra importações. Mas diminuiu a produção de veículos e a indústria como um todo está fechando o ano com uma previsão de queda de 2,3% e queda do emprego de 1,4%.
A Petrobras teve o primeiro prejuízo trimestral em 10 anos e o rating da empresa foi colocado em perspectiva negativa pela Moody’s, apesar de hoje haver muita confiança de que a presidente da companhia vai enfrentar os problemas da estatal e não escamoteá-los. A Vale teve um ano de desinvestimento e de queda do preço da sua principal matéria-prima. Os melhores anos ficaram para trás e a Vale precisa se adaptar.
Enfim, o ano passou, mas não esquentou. Tomara que o governo entenda o momento como uma nova chance. Tem de corrigir rotas e não persistir nos erros. Feliz Ano Novo.

Impasse atrasa obras da ferrovia Transnordestina

Impasse atrasa obras da ferrovia Transnordestina
Sergio Torres
Do Estadão
Prevista para funcionar a partir de 30 de dezembro de 2014, penúltimo dia da gestão da presidente Dilma Rousseff, a ferrovia Transnordestina não será inaugurada antes de 2015. A obra, iniciada em 2006, entrou em ritmo ainda mais lento neste segundo semestre, a partir do acirramento de um impasse financeiro já antigo entre o governo federal e a concessionária Transnordestina Logística S/A (TLSA).
Na assinatura do protocolo de intenções em 2005, foi anunciado que a ferrovia custaria R$ 4,5 bilhões. As obras começaram em julho do ano seguinte. Em 2008, já havia um novo preço firmado em contrato: R$ 5,4 bilhões. A TLSA vem alegando que esse valor, em razão de contratempos surgidos no decorrer da obra, está subdimensionado.
A concessionária quer agora R$ 8,2 bilhões. Sem esse aporte financeiro adicional, a TLSA argumenta que não haverá meios de entregar a Transnordestina completa a tempo de ser inaugurada por Dilma. A ferrovia é uma das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A solicitação da TLSA, controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), não é bem vista pelo governo. A concessionária quer que o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que já banca 50% dos recursos (R$ 2,7 bilhões), aumente a participação.

O fundo regional é gerenciado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que recusou-se a divulgar os valores até agora liberados para a construção da ferrovia. Também envolvido no financiamento da ferrovia, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contribuiu com R$ 900 milhões, já liberados.
O governo resiste a dar o dinheiro requerido pela concessionária e insiste que a obra deve ser inaugurada ainda no governo Dilma. Mas deu à CSN a possibilidade de obter empréstimos nas instituições públicas.
"Para que os trabalhos da Transnordestina não sejam interrompidos, o governo federal, através da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e do BNB, autorizou a obtenção de empréstimo, por parte da Transnordestina Logística S.A, o que permitirá que as frentes de trabalho continuem mobilizadas e o cronograma das obras não apresente maiores postergações", informou em nota o Ministério da Integração Nacional, sem revelar os valores dos empréstimos.
A ferrovia foi planejada para levar até os portos de Pecém (Ceará) e Suape (Pernambuco) a produção agrícola do cerrado do Piauí, especialmente soja. A linha férrea partiria da cidade piauiense de Eliseu Martins até Salgueiro, no sertão pernambucano. No município, a Transnordestina se dividiria. Um braço seguiria até o litoral pernambucano. Outro, dobraria à esquerda no rumo norte, até a costa cearense.
A primeira previsão é de que a ferrovia, no trecho Piauí-Pernambuco, seria inaugurada em 2010, ao final do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O trecho Piauí-Ceará ficaria pronto em 2013.
Nada disso aconteceu. Foi dado um novo prazo, 2012, que se encerra sem que a obra tenha alcançado nem sequer 20% do trajeto. A nova previsão passou a ser dezembro de 2014. Embora faltem dois anos, o prazo não será cumprido, de acordo com avaliações reservadas tanto do governo quanto das próprias CSN e TLSA. Só falta tornar isso público.
De interesse estratégico para o governo, a ferrovia é vista como um futuro polo indutor de progresso de uma região cronicamente problemática, caracterizada pela pobreza de sua população, pelo ainda presente êxodo para as regiões metropolitanas, e sempre sujeita a secas muito intensas, como a que já dura dois anos.
A soja produzida no cerrado do Piauí chega hoje aos portos de exportação em carretas que circulam na maioria das vezes por estradas em péssimo estado de manutenção. A Transnordestina resolveria esse problema logístico, ao entregar a carga nos terminais portuários de maneira bem mais segura, econômica e ambientalmente limpa.
A previsão da safra de soja do Piauí em 2013 é de 1,48 milhão de toneladas, 17% a mais do que o registrado neste ano. Estão plantados 101,4 mil hectares dos 506,8 mil destinados até agora ao cultivo do grão nesta nova fronteira agrícola brasileira.
Nas negociações com o governo, CSN e TLSN argumentam, na tentativa de obter mais financiamentos públicos, que a ferrovia é fundamental para o desenvolvimento do interior do Nordeste, para o crescimento expressivo das exportações e para a entrada no País do dinheiro obtido na venda da soja no mercado externo. E que, apesar dessa importância, o retorno para o investidor é muito baixo em um primeiro momento. O lucro, se vier, será a longo prazo, dizem executivos da companhia encarregados das discussões com o governo.

Escrito por Magno Martins, às 06h36
 Escrito por Magno Martins, às 06h36

CARLOS BRICKMANN;;.....Apesar de tudo, feliz ano novo

Apesar de tudo, feliz ano novo

CARLOS BRICKMANN
1- Renan Calheiros é candidato à Presidência do Senado - e favorito.

2 - José Genoíno, condenado pelo STF no processo do Mensalão, assume a cadeira de deputado federal como suplente de Carlinhos de Almeida, que se elegeu prefeito de São José dos Campos. A pena de Genoíno é de 6 anos e 11 meses de prisão, em regime semiaberto. Sessões à noite, nem pensar.

3- A família vai bem, obrigado. O deputado federal José Nobre Guimarães, irmão de Genoíno, é líder da bancada petista. Lembra do cavalheiro preso com cem mil dólares na cueca? Era assessor do Nobre parlamentar.

4 - A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvati, engordou o cofrinho aposentando-se como ex-senadora. Saiu no Diário Oficial do dia 27.

5 - O Governo paulista, forçado pela Lei de Acesso à Informação, revelou que paga pensão vitalícia a 266 políticos ou parentes de políticos. São R$ 33 milhões, para, entre outros, dois ex-ministros, dois ex-governadores, um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, a viúva de um ex-governador e um ex-candidato à Presidência da República. Nomes? Ex-ministros, Almir Pazzianoto e Wagner Rossi; ex-governadores, José Maria Marin - sim, o presidente da CBF - e Alberto Goldman; conselheiro do TCE, Robson Marinho (que acumula a pensão com o salário do tribunal); viúva de ex-governador (Mário Covas), Lila Covas; ex-candidato à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio.

Tudo isso está na lei. E esqueça Chico Buarque: amanhã não vai ser outro dia.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Caso Renan Calheiros


Caso Renan Calheiros

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O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi acusado por crimes de corrupção, com pagamento de propina, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, exploração de prestígio e sonegação fiscal, mas foi inocentado num processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar por ter mentido em discurso na tribuna do Senado Federal. Em 2007, quando presidiu o Senado, Renan Calheiros foi alvo de seis processos no Conselho de Ética do Senado. Em um deles, seu mandato foi submetido a um pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar, por ter mentido sobre a origem do dinheiro do pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha fora do casamento.
Manifestações populares, protestos e abaixo-assinados pedindo “Fora Renan” antecederam a tarde de 12 de setembro, quando, em sessão secreta, 40 dos 81 senadores julgaram improcedentes as acusações, e o absolveram. O placar registrou 35 favoráveis à cassação e 6 abstenções. As primeiras páginas de jornais resumiram o sentimento popular.

Leia a seguir um resumo dos seis processos:

1º processo: o dinheiro da Mendes Junior

O relatório produzido pelos senadores Renato Casagrande (PSB/ES) e Marisa Serrano (PSDB/MS) pediu a cassação do mandato de Renan por quebra de decoro parlamentar, pois as investigações descobriram falsidades tanto no discurso que o senador alagoano fez na tribuna do Senado, quantos nos documentos que apresentou à Comissão de Ética em sua defesa.

No discurso, o senador disse que tinha renda para pagar todas as despesas do aluguel de um apartamento e pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha fora do casamento. Essas despesas somavam R$ 16.500 mensais (R$ 4.500,00 do aluguel e R$ 12.000,00 para a criança), seu salário bruto era de R$ 12.720,00 e a diferença provinha do seu sucesso como empresário do setor pecuário.

Disse também que havia feito um fundo de R$ 100 mil para garantir as despesas futuras com a educação da criança, e que tudo estava declarado ao Fisco.

Na ação judicial para pagamento dessa pensão, Renan afirmou que ganhava apenas o salário senador, que era de R$ 12.720,00 brutos, não podendo, portanto arcar com pensão superior a R$ 3.000,00. Nas declarações de Imposto de Renda, Renan não declarou nem a ajuda mensal de R$ 8 mil para a mãe da criança, nem o saque para formação do fundo de R$ 100 mil.
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Para provar que teve rendimentos e justificar a origem do dinheiro que pagava a pensão alimentícia de Mônica e filha, Renan incluiu no pacote de documentos entregues ao Conselho de Ética, Guias de Transporte de Animais, documentos que autorizam o trânsito de animais vivos. Acionada, a Polícia Federal descobriu que a papelada mais parecia uma peça de acusação do que de defesa.

Das 1702 cabeças de gado registradas nessas GTAs, 549 não pertenciam ao senador. Mesmo se todo gado fosse seu, ainda faltaria a comprovação de R$ 900 mil. Mais do que isso, o lucro que Renan obtinha com seu gado chegava a surpreendentes 86%, contra 15% da média do mercado.

No discurso, disse aos senadores que não tinha nenhuma relação com a construtora Mendes Junior, que pudesse implicar em recebimento de “benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento.”

Entre 2004 e 2005, Renan apresentou três emendas orçamentárias de R$ 13,2 milhões, que favoreceu a construção de um cais para contêineres que a empreiteira fazia no porto de Maceió. A obra estava parada desde 2001, por irregularidades constatadas por auditorias do Tribunal de Contas da União.

Além dessas emendas, Renan visitou as obras a convite do lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Junior. Era Gontijo que se ocupava do pagamento de R$ 16.500,00 que, dentro de um envelope, Mônica Veloso pegava mensalmente nos escritórios da empreiteira. Gontijo também foi o fiador de uma ampla casa com 4 quartos piscina e churrasqueira, que mãe e filha moraram até março de 2005.
Quando terminou a sessão que o absolveu, a imprensa obteve um único comentário de Renan: “vou para casa rezar”.


2º processo: a Schincariol - Segundo a reportagem “Negócios Milionários”, da revista Veja (edição nº, 2016, de 11/7/2007), Renan teria intercedido junto ao INSS e Receita Federal em favor da cervejaria Schincariol, para impedir a cobrança de uma dívida previdenciária de R$ 100 milhões, e uma multa de R$ 1 bilhão por sonegação fiscal, em troca da compra da Conny Indústria e Comércio de Sucos e Refrigerantes, do seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB/AL), pela Schincariol. O negócio de R$ 27 milhões foi concretizado em junho de 2006.
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Em julho de 2006, o parecer técnico do Ato de Concentração da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda informou que a Conny tinha um passivo de R$ 9,3 milhões, e havia faturado R$ 2,05 milhões em 2005, dados que não podiam ser confirmados porque a empresa não possuía Relatório Anual, e tampouco havia enviado “documento comprobatório de seu faturamento”.

O senador João Pedro (PT/AM), relator dessa representação (nº 2/2007) feita pelo PSOL, pediu arquivamento da denúncia fundamentalmente porque “matérias jornalísticas não são suficientes para caracterizarem-se como indícios e, portanto, incapazes de, sozinhas, sustentarem a instauração de procedimento criminal”.

Constou ainda no parecer do relator, que a Receita e a Polícia Federal se recusaram a fornecer informações sob alegação de sigilo. O INSS alegou que nada poderia informar, pois a diretoria de Arrecadação e Fiscalização havia sido transferida para o Ministério da Previdência Social, que não foi oficiado.


3º processo: a sociedade secreta e os “laranjas” - Essa denúncia, relatada pelo senador Jefferson Péres, se baseou na entrevista que o usineiro João Lyra deu à revista Veja (edição nº 2021, de 14/8/2007), onde contou sobre a participação do senador numa sociedade secreta entre os dois para a compra de duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas, através de dois “laranjas”: Idelfonso Tito Uchôa, primo de Renan, e Renan Calheiros Filho, por óbvio, seu filho. O pagamento do negócio de R$ 1,3 milhão teria sido realizado em dinheiro, sendo parte em dólares, e nada foi declarado à Receita Federal ou à Justiça Eleitoral.
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Segundo Veja, até 2005, Renan havia sido sócio de um jornal avaliado em R$ 3 milhões, sem nada informar à Receita Federal. A publicação era O Jornal, o segundo mais lido do estado e concorrente da Gazeta de Alagoas, de propriedade da família Collor. A reportagem informou que a operação de compra de participação em empresas de mídia começou em 1998, quando o senador planejava concorrer ao governo de Alagoas, mas encontrava resistência de seu ex-aliado Fernando Collor.

Para comprar o jornal e fazer oposição à família Collor, Renan procurou o usineiro João Lyra, ex-sogro de Pedro Collor, propondo sociedade. Segundo a revista, cada um entrou com R$ 1,3 milhão, mas que Lyra emprestou R$ 700 mil à Renan, pois ele não tinha todo o dinheiro para fechar o negócio. Este empréstimo foi pago em parcelas mensais ao longo de 1999, mas a revista contou que o senador não usou banco, cheques ou qualquer meio de comprovação eletrônico.

Quando a sociedade terminou, em março de 2005, os negócios de comunicação tinham prosperado. A emissora de rádio chamava-se JR Radiodifusão e era controlada pelo primo Tito e o filho Renanzinho, embora estivesse em nome de Idelfonso Tito Uchôa e Carlos Ricardo Nascimento Santa Ritta, um funcionário do gabinete de Renan, que dava expediente em Jequiá da Praia, onde sua esposa, Rosinha Jatobá era prefeita pelo PMDB.
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O primo Tito Uchôa respondia a processo por improbidade administrativa, superfaturamento e fraude em licitações, por contratos celebrados entre 2000 e 2002, quando foi chefe da Delegacia Regional do Trabalho em Alagoas, por indicação do próprio Renan. Antes, em 1995, ele havia servido de testa-de-ferro para Renan e seu irmão Olavo na compra da fazenda Sítio Lagoa 3.
Essas informações foram publicadas na reportagem “Primo de Renan agiu como testa-de-ferro dos Calheiros”, da Folha de S. Paulo, de 10/8/2007, e apurada pelo repórter Leonardo Souza.

Segundo reportagem do Estado de S. Paulo (23/11/2007), dos 81 senadores, 23 deles - quase um terço do total - apareciam como proprietários de empresas do gênero e entregavam a parentes o comando das emissoras, como fez Renan Calheiros. Mesmo quando a transferência não passava de mera formalidade, essa era a maneira como os senadores driblavam o 54º artigo da Constituição e o 4º do Código de Ética do Senado.

O ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), explicou aos leitores do Estado de S. Paulo, que essa era uma forma do parlamentar "fazer de conta" que não mandava no veículo de comunicação. O artigo 54 deixa bem claro que deputados e senadores, depois de empossados, não podem ser "proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada".

O descumprimento da regra implica, de acordo com o artigo 55, "perda do mandato" e o Código de Ética do Senado proíbe os senadores, no artigo 4º, de "dirigir ou gerir empresas, órgãos e meios de comunicação", assim considerados aqueles que executem serviços de rádio e televisão.


4º processo: esquema de desvio de recursos - Essa denúncia partiu da matéria “Peguei R$ 3 milhões” publicada na revista Época (edição nº 485, de 3/9/2007), onde Bruno Miranda Ribeiro Brito Lins, afilhado de casamento de Renan, confirmou o teor do depoimento que prestou, em 2006, à Polícia Civil de Brasília. Nessa ocasião, Bruno contou que seu ex-sogro, o empresário Luiz Carlos Garcia Coelho, havia montado um esquema de arrecadação de dinheiro para Renan em ministérios chefiados por pessoas indicadas pelo PMDB, como na Previdência Social e Saúde.

Bruno disse que normalmente quem buscava o dinheiro era Everaldo França Ferro, um assessor de confiança de Renan, mas que em pelo menos seis ocasiões foi buscar o dinheiro da propina, normalmente numa maleta de executivo. Numa dessas vezes, teve que levar uma sacola ao Banco BMG, pois a quantia era alta: R$ 3 milhões.


5º processo: chantagem de araponga - Essa denúncia partiu quando o ex-deputado Pedro Abrão (PTB-GO), dono de um hangar de táxi aéreo no aeroporto de Goiânia contou ao senador goiano Demóstenes Torres (DEM-GO), que havia sido procurado, em outubro de 2007, pelo o ex-senador Francisco Escórcio, que estava lotado na Presidência do Senado, para instalar câmeras de vídeo para filmar os senadores Demóstenes e Marconi Perillo (PSDB-GO) embarcando e desembarcando em aeronaves particulares, para flagrá-los em alguma atividade ilícita e depois chantageá-los em troca de apoio, informou O Estado de S. Paulo, de 07/10/2007.

“Esse pessoal está achando que eu sou bandido, mas eu não sou bandido não”, disse Abrão, que garantiu ao senador Demóstenes ter ouvido de Escórcio que a operação envolvia outras pessoas e a idéia era montar um dossiê contra os dois senadores que estavam “batendo demais em Renan” no Conselho de Ética.

Antes de se licenciar da Presidência do Senado, Renan demitiu Escórcio, e afirmou, segundo a Folha.com, que não fazia parte do seu caráter práticas “inescrupulosas, imorais e ilegais”. Em pouco tempo, Escórcio foi nomeado pela governadora Roseana Sarney secretário de representação institucional do Governo do Estado do Maranhão em Brasília.

Em julho de 2010, a coluna Painel da Folha de S. Paulo informou que os R$ 26 milhões de patrimônio declarados por Escórcio, que se candidatava a uma cadeira na Câmara Federal pelo PMDB-MA, era dez vezes maior que a declaração patrimonial apresentada em 2006, quando tentou, sem sucesso, a mesma vaga.
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6º processo: emenda para empresa fantasma - O Estado de S. Paulo, de 14/10/2007, revelou que Renan havia feito uma emenda parlamentar de R$ 280 mil, que favoreceu uma empresa fantasma de José Albino Gonçalves de Freitas, um ex-assessor do senador que transitava entre Brasília e Alagoas.

A empresa KSI Consultoria e Construções, com sede em Pernambuco e filial em Alagoas foi contratada para construir 28 casas pelo programa de combate à doença de Chagas, em seis fazendas no município de Murici/AL, cidade administrada por Renan Calheiros Filho (PMDB), um dos três filhos do senador com a esposa Maria Verônica.

A reportagem do Estado de S. Paulo não conseguiu entrar em nenhuma das fazendas onde teriam sido construídas as 28 casas (Sitio Goiânia 1 e 2, Bananal 1, Gravatá das Antas, Engenho Velho e Chã do Firmino). A Funasa, tutora do programa contra a doença, registrava a execução das obras.

Em 2008, Renanzinho, como é tratado pelo papai senador Renan Calheiros, foi reeleito para a prefeitura de Murici, tendo como vice seu irmão, Remi, e em 2010, Renanzinho foi eleito para a Câmara Federal. (Atualizado em 06/07/2011)



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