sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

“Ao chegar a hora de passar desse mundo ao Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, Jesus amou-os até o fim” (Jo 13, 1).


“Ao chegar a hora de passar desse mundo ao Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, Jesus amou-os até o fim” (Jo 13, 1).

Queridos irmãos e irmãs da nossa Igreja de Olinda e Recife,
É nossa vocação de discípulos e discípulas de Jesus acompanhá-lo nesse caminho de amor até o fim. A cada ano, o ciclo pascal que compreende a Quaresma e a Páscoa nos é dado como tempo oportuno para que cada um de
 nós possa rever se está verdadeiramente vivendo a fé e o ministério, como esse caminho de amor. E, decididamente, tomar os instrumentos necessários para nos estimular juntos no seguimento de Jesus em sua caminhada pascal. O risco para quem se habitua ao ciclo litúrgico é de tomá-lo como mera repetição cíclica dos mesmos textos e ritos. Na carta aos romanos, Paulo nos adverte: “Já que vos dais conta do tempo em que estamos vivendo, é hora de despertardes do sono porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçamos a fé” (Rm 13, 11). Na cultura escatológica das primeiras comunidades cristãs e de Paulo, quando ele diz que a salvação está mais perto de nós, não devemos interpretar como tratar-se apenas da santificação pessoal. A atenção maior de Paulo é o que, no Evangelho, Jesus chama de “Reino de Deus”, a realização do projeto divino no mundo. É importante lembrarmos isso, especialmente nesse ano, em que o papa Bento XVI nos chama a aprofundar nosso compromisso de celebrar o 50º aniversário do Concílio Vaticano II realizando o “Ano da Fé”. Esse ano da fé não pode ser apenas para reafirmá-la e sim, vivê-la na coerência do seguimento de Jesus em seu amor pelos seus e por todo o mundo.

No início dessa Quaresma, quero convidar vocês a considerar a Páscoa de Jesus como a humildade de Deus em servir. No Novo Testamento, as virtudes que Paulo e os apóstolos pedem aos primeiros cristãos podem ser traduzidas, entre outras, como humildade, paciência, perseverança. Recordo que o termo grego hypomonè é uma combinação do verbo grego permanecer (menein) com o advérbio de lugar sob, ou embaixo (hypo). Então hipomonè é a atitude de quem aceita ficar por baixo, humilhar-se para servir, para apoiar, para sustentar os outros. Orígenes, pai da Igreja de Alexandria, no século III, fala em “humilhação” de Deus na história dos homens. Autores atuais chegam a traduzir como sendo o esforço de enculturação e de inserção de Deus na história e em interessar-se e comprometer-se com os problemas humanos. Nesse mesmo sentido, a 2ª carta de Pedro chega a dizer que “a duradoura paciência de Deus tem em vista a nossa salvação” (2 Pd 3, 15). Paulo, por sua vez, ensina que a tribulação, (os sofrimentos) produz a perseverança (o manter-se na missão) e essa, a esperança” (Rm 5, 3). Nossa celebração da Quaresma e da Páscoa deve expressar a pastoral de uma Igreja discípula de Jesus no seu serviço à humanidade, especialmente, aos mais necessitados. Isso pede de nós atenção e maior apoio às pastorais sociais e diálogo com os movimentos eclesiais nesse espírito de serviço humilde e amoroso.

Nesse ano, especialmente, nossa atenção precisa se centrar na juventude. No Texto-Base da CF 2013, a CNBB constata que nem sempre tem sido fácil encontrar assessores e pastores que acompanhem a pastoral da juventude. Como sabem a Campanha da Fraternidade, iniciada na vizinha Arquidiocese de Natal e que neste ano celebra seu 50º aniversário, volta a abordar o tema juventude, não apenas por conta da ‘Jornada Mundial da Juventude’, mas, por estar alarmada pelas estatísticas que mostram o elevado número de assassinatos e violências cometidos contra os jovens mais pobres no Brasil, especialmente os de raça negra e moradores de favelas. Praticamente todas as paróquias de nossas cidades têm suas áreas de risco. Em nome de Deus, peço a todos os sacerdotes e diáconos, assim como às equipes paroquiais e às comunidades religiosas que prestem atenção a isso e se possível nos ajudem a fazer, em nossa arquidiocese, um mapa da violência contra os jovens marginalizados, de forma que possamos saber como atuar de maneira mais eficiente e comunitária, junto com toda a sociedade civil e o poder público. Foi nesse propósito que escolhemos o CENIP (Centro de Internação Provisória de Menores Infratores da FUNASE/PE) para o lançamento desta CF-2013 em nossa arquidiocese.

Nosso querido Nordeste continua vivendo sob uma seca terrível e suas sequelas de pobreza e sofrimento, especialmente para o povo mais empobrecido. Por outro lado, a região metropolitana sofre as consequências de um crescimento desordenado e desigual. Não podemos deixar de sofrer com as inadequadas condições de trabalho, empregos maus remunerados, o trânsito estressante das nossas cidades, as péssimas condições de moradia de grande parte da população, assim como a situação de pessoas que, em pleno século XXI, ainda passam fome. Seguir Jesus em seu amor pelos seus, significa não só preocupar-se com esses problemas, mas comprometer-se a, em nome da fé e como discípulos de Jesus, trabalhar pela transformação dessa realidade.

Que nossas paróquias e comunidades sejam cada vez mais lugares de acolhida nos quais a juventude se sinta em casa e os/as jovens possam ser estimulados a viver sua missão no mundo e nós mesmos, adultos, descubramos e atualizemos a jovialidade que precisamos ter como atitude pascal diante dos desafios da vida.

Diante da recente renúncia do Papa Bento XVI e expectativa da eleição do seu sucessor, somos especialmente
convidados, nesse tempo quaresmal, a unir-nos a toda a Igreja em oração. Rezemos agradecendo a Deus todo o bem que o papa Bento pôde realizar nesses quase 8 anos de pontificado e pela eleição daquele que o sucederá. Que seja escolhido o papa que já está no coração de Deus.

Desejo a cada um/uma de vocês um renovado ciclo pascal. O Deus que disse: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5) abençoe e conduza a cada um/uma de vocês.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife.

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