sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Por que nascem pessoas deficientes?


Por que nascem pessoas deficientes?


stevie_wonder


STEVIE WONDER ficou cego ainda bebê. Você acha que ele é mais "sofrido" ou tem menos possibilidade de ser feliz do que uma pessoa que enxerga?

Ao ver uma pessoa deficiente de nascença, muitos se perguntam: porque alguns nascem deficientes e outros nascem “perfeitos”? Ainda que a maioria não tenha coragem de declarar isso, no fundo desta pergunta está a crença de que uma pessoa deficiente tem menor potencial para se realizar, para ser feliz, do que uma pessoa “normal”. Será?
Para compreendermos essa questão, é necessário, primeiramente, que nos demos conta de um problema anterior: por causa do pecado original, nem a nossa alma nem o nosso corpo estão de acordo com o plano de Deus ao criar os homens. Tudo tende a se corromper, tudo está fora do lugar, tudo decai. Feridos por esta mancha, todos nós nascemos com deficiências e limitações, sejam elas de ordem física, psicológica, emocional ou econômica, entre outras.
Se entendermos isso, veremos que o leque de perguntas deve ser ampliado:
  • Por que alguns são gerados por pais se amam e se respeitam, e outros são recebidos neste mundo por um casal em crise e amargurado?
  • Por que alguns nascem em um lar onde há fartura, e outros nascem em uma família miserável?
  • Por que alguns nascem sendo amados pelo pai e pela mãe, e outros já nascem rejeitados por um deles, ou por ambos?
A deficiência física ou intelectual de um recém-nascido nos abala de modo especial porque torna evidente aos nossos olhos algumas das dificuldades que aquela criança terá na vida; entretanto, uma criança “normal” também nasce com uma série de deficiências, que não chamam tanto a nossa atenção por não serem explícitas visualmente. São limitações internas ou relativas ao ambiente social e familar, porém não menos dramáticas.
Marilyn_MonroePara a coisa ficar mais clara, vamos partir de um exemplo concreto. Olhe para a foto aí ao lado: o que você vê? A maioria das pessoas vê beleza, sensualidade, talento, glamour, sucesso… Sim, Marilyn Monroe, ícone pop e uma das maiores estrelas do cinema de todos os tempos, tinha tudo isso de sobra. Mas o que pouca gente percebe é que ela sofria pelas consequências de suas graves deficiências familiares de nascença. Jamais conheceu o pai, e sua mãe foi internada em um hospício quando ela era ainda muito pequena. Apesar de ter os pais vivos, a menina era, na prática, uma órfã.
Marilyn passou boa parte da infância em casas de parentes e orfanatos. Sendo uma criança desprotegida, foi abusada sexualmente na infância por vários anos. É bem possível que ela tenha sido um lindo bebê, aparentemente “perfeito”. Entretanto, nasceu emocionalmente mutilada, sem o amor e a presença do pai e, logo depois, sem os cuidados da mãe. Quem poderá dizer que o “fardo” do seu desamparo de nascença – que a expôs a sabe-se lá quantas dores e humilhações ao longo de toda a sua vida – é menor do que o de uma criança que nasce com alguma deficiência física ou intelectual? Quem poderá vislumbrar e medir a grandeza dos obstáculos que se apresentam diante de cada pessoa, assim que ela nasce?
deficiente_prioridadeOs deficientes físicos ou intelectuais precisam que a sociedade olhe para as suas limitações de forma objetiva e sem pieguice: eles têm necessidade de atendimento médico especializado, cultura, educação e lazer; de acessibilidade nas ruas, nos meios de transporte, no comércio etc. Mas… ter pena? Como diziam meus sábios amiguinhos do Jardim de Infância, quem tem pena é galinha!
Assim, não é realista quem vê o deficiente físico ou intelectual como um coitado que sofre mais do que os outros. Filhos de Adão e Eva, coitados somos todos nós, que já nascemos destinados a morrer (ô dó!). Cada indivíduo carrega as suas mazelas, as suas frustrações, os seus traumas… e cada um sabe onde o seu calo aperta.
A ideia de que os deficientes físicos ou intelectuais de nascença são pessoas potencialmente infelizes resulta, muitas vezes, no preconceito e na segregação dessas pessoas na sociedade. Em um nível mais crítico de rejeição, muitos chegam até mesmo a pensar que seria melhor que as pessoas deficientes nem chegassem a nascer. E isso explica porque mais de 90% das crianças com Síndrome de Down são abortadas na Europa e nos EUA.
Assim como todos nós somos “coitados”, do ponto de vista das nossas chagas de naturezas diversas, também todos todos nós somos imensamente abençoados. Temos motivos de sobra para ter esperanças e sorrir! Há 2 mil anos, Deus se encarnou no ventre de uma Virgem, se fez Menino; Ele se dignou a descer de Sua glória nos Céus e vir até nós, a nos olhar nos olhos e a nos ensinar o caminho para a verdadeira vida. Ele nos amou, a ponto de se entregar na cruz por nós.
Então, como cadeirantes ou “andantes”, sendo pobres ou ricos, tendo sido crianças amadas ou negligenciadas, podemos caminhar com Jesus, nos tornar pessoas melhores com o tempo, amar como Ele amou, gozar do “cêntuplo” ainda nesta vida e, no fim, partilhar de sua Eterna Vitória.
Graças a Deus, somos muito mais do que infelizes filhos de Eva: somos filhos da doce e poderosa Virgem Maria!
Andy_Reigstad_sindrome_de_down
Nascido em um país onde 90% dos bebês com Síndrome de Down são abortados, o menino americano ANDY REIGSTAD (de camiseta amarela) sempre foi desejado e é amado pelos pais. Você acha que ele tem menos possibilidade de ser feliz do que você?
- See more at: http://ocatequista.com.br/archives/4861#sthash.5n1bk6KQ.dpuf

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

BLACK BLOCS: Senador Pedro Simon compara-os aos terroristas da Al Qaeda, chama-os de “bandoleiros” e diz que reprimir os vândalos é defender a democracia e a sociedade

01/11/2013
 às 16:32 \ Política & Cia

BLACK BLOCS: Senador Pedro Simon compara-os aos terroristas da Al Qaeda, chama-os de “bandoleiros” e diz que reprimir os vândalos é defender a democracia e a sociedade

Simon: baderneiros mascarados são terroristas e "celerados" e devem ser reprimidos com firmeza (Foto: Geraldo Magela / Agência Senado)
Simon: baderneiros mascarados são terroristas e “bandoleiros” e devem ser reprimidos com firmeza (Foto: Geraldo Magela / Agência Senado)


O venerando senador Pedro Simon (PMDB-RS), já perto de seus 84 anos de idade e uma das referências morais do Congresso — tão necessitado de políticos assim — pronunciou hoje um duríssimo ataque aos vândalos que se autodenominam “black blocs”, comparando-os aos terroristas da Al Qaeda, chamando-os de “celerados”, de “mascarados da estupidez” e dizendo que “reprimir a violência absurda e sem sentido do grupo bandoleiro dos Black Blocs é um ato claro do Estado para a proteção e segurança da sociedade”.
Vale a pena conferir o discurso de Simon:
Senhor Presidente, senhoras e senhores senadores,
Imaginem a seguinte cena, por mais absurda que seja:
Uma dúzia de mascarados dos Black Blocs invade dois aviões Boeing, decolam, sobrevoam Brasília e jogam deliberadamente os aviões sobre dois alvos preferenciais:
Um, sobre o Congresso Nacional, símbolo do poder do povo;
Outro, sobre o Palácio do Planalto, sede executiva do principal governante do país.
Já imaginaram esta cena?
Pois algo parecido acaba de acontecer aqui mesmo no Brasil, dias atrás, em São Paulo.
Na tarde de segunda-feira (28), manifestantes, muitos deles mascarados, todos eles exaltados, decidiram protestar contra a morte de um estudante pela polícia.
Bloquearam na capital paulista a saída norte da Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais.
Interromperam o trânsito, invadiram os veículos paralisados no trânsito, evacuaram os ônibus, retiraram os motoristas dos caminhões retidos pelo movimento.
Fizeram mais. Fizeram pior.
Queimaram cinco ônibus e três caminhões.
A cena mais terrível, contudo, ficou por conta de um caminhão-tanque capturado pelos manifestantes.
Retiraram o motorista da cabine, tomaram o controle do veículo, manobraram, deram marcha à ré e começaram a rodar em alta velocidade pela rodovia paralisada.
Parecia uma travessura de criança.
Três manifestantes se penduraram no para-choque traseiro, outros dois se agarraram à carroceria, enquanto um terceiro se equilibrava perigosamente sobre o vagão de carga.
Outro viajava na boleia do lado direito, enquanto o oitavo manifestante dirigia o veículo sem destino.
Era muito mais do que uma travessura.
Era uma perigosa, letal imprudência cometida a bordo de um veículo com tanque para transporte de 30 mil litros de combustível.

Simon: "O que mais assusta, tanto quanto a violência ativa de um bando de celerados, é a presença passiva das autoridades diante dos atos e fatos de ostensiva agressão à ordem pública e à paz das comunidades" (Foto: Gabriela Batista)
Black blocks: segundo o senador,  “o que mais assusta, tanto quanto a violência ativa de um bando de celerados, é a presença passiva das autoridades diante dos atos e fatos de ostensiva agressão à ordem pública e à paz das comunidades” (Foto: Gabriela Batista)


Se não tivesse sido parado por policiais, mais adiante, e apeado de lá, o grupo do caminhão-tanque poderia ter continuado sua rota ameaçadora em direção ao imponderável, ao impensável.
Poderia ter jogado o caminhão e sua carga inflamável sobre uma barreira policial, sobre um grupo de residências, sobre o prédio do MASP, sobre o Palácio dos Bandeirantes, sobre a Catedral da Sé, sobre qualquer coisa que pudesse imaginar a cabeça insensata daqueles insanos.
Isso poderia ter acontecido no Rio de Janeiro, em Brasília, em qualquer lugar.
Pois isso, senhores senadores, já aconteceu em Nova York, em 2001.
Em 11 de setembro, 19 Black Blocs sem máscara da Al-Qaeda tomaram quatro Boeing e cometeram o mais devastador ataque terrorista da História.
Um Boeing 767, o voo 175 da United Airlines, com 56 passageiros e nove tripulantes, decolou de Boston às 7h59m.
O Boeing decolou naquela manhã ensolarada com destino a Los Angeles, a 4.190 km de distância.
Cheios de combustível, seus tanques com capacidade para 70 mil litros têm autonomia para um voo de até 10.600 km.
Como Los Angeles está a menos da metade disso, o Boeing voava com meia carga nos seus tanques, pouco mais de 35 mil litros.
O voo 175 deveria durar 6 horas e 35 minutos, mas acabou apenas uma hora e quatro minutos depois.
Tomado pelos Black Blocs da Al Qaeda, o Boeing foi desviado para Nova York até se chocar com a Torre Sul do World Trade Center, às 9h3m.
Isso aconteceu 17 minutos após a Torre Norte ser atingida por outro Boeing sequestrado.
O voo 175 caiu a 545 km por hora, atingindo o prédio entre os andares 77 e 85 e produzindo, com seus milhares de litros de combustível, um furor de fogo e calor intenso que chegou próximo aos 1.000 graus Celsius.
Apenas 56 minutos e 10 segundos após o impacto, a enorme torre de 110 andares desmoronou.
Senhoras e senhores senadores, repito e lembro aqui uma perturbadora semelhança entre a tragédia de Nova York e a quase tragédia de São Paulo.
O Boeing das Torres Gêmeas caiu sobre o prédio como uma bomba incendiária carregada com pouco mais de 30 mil litros de combustível.
Repito: 30 mil litros de combustível.
Os mesmos 30 mil litros do caminhão-tanque de São Paulo que rodava, desatinado, sob o controle ou o descontrole dos terroristas que corriam, sem destino, por uma rodovia federal cercada por civis e inocentes.
Devemos festejar que os nossos terroristas de São Paulo não estivessem tripulando um Boeing?
É menos grave que tivessem tomado apenas um caminhão-tanque com o mesmo potencial de morte inflamável que matou mais de três mil pessoas em Nova York no alvorecer do século 21?
Quantas mortes, quantos incêndios, quanto vandalismo e quanta destruição ainda precisamos aguardar para que se adotem as medidas necessárias para conter a onda de violência crescente que domina nossas rodovias, nossas avenidas, nossas praças, nossos noticiários de TV?
Qual a tragédia anunciada que estamos esperando, sem fazer nada?
O que mais assusta, tanto quanto a violência ativa de um bando de celerados, é a presença passiva das autoridades diante dos atos e fatos de ostensiva agressão à ordem pública e à paz das comunidades.
O que dá medo, o que intriga, o que não se explica, é a imagem de policiais e batalhões em forma, alinhados, enfileirados, apenas assistindo aos atos de violência, depredação e destruição do patrimônio privado e público, como se fossem meros transeuntes casualmente passando por perto.
As forças de segurança passivas disseminam a insegurança, estimulando ainda mais violência com sua inexplicável inação.
Um país traumatizado por 21 anos de violência de um regime autoritário parece, de repente, incapaz de discernir o que é um ato de mera e inaceitável repressão e o que é uma atitude de justa e inatacável defesa da ordem democrática.
Reprimir a violência absurda e sem sentido do grupo bandoleiro dos Black Blocs é um ato claro do Estado para a proteção e segurança da sociedade, acuada por quem só tem a violência como argumento.
A presidente Dilma Rousseff, com a autoridade de ex-guerrilheira que pegou em armas para lutar contra a repressão e o arbítrio da ditadura, e que por ela foi presa e torturada, também não suporta mais a estupidez política dos Black Blocs.
Disse a presidente Dilma nesta quarta-feira, no Paraná:
— Antes de tudo, quero dizer que defendo manifestações democráticas. Mas acredito que a violência dos mascarados não é democrática.
Disse mais a presidente Dilma:
— A violência é antidemocrática e tem que ser coibida. É necessário que os órgãos responsáveis coíbam essa violência para que não haja risco às pessoas, nem ataques ao patrimônio público e privado.
Senhoras e senhores senadores, o Brasil tomou as ruas de forma emocionante, em junho passado, com multidões conscientes de seus direitos.
Clamavam pacificamente por mudanças e por avanços nas condições de vida dos brasileiros, exigindo reformas, cobrando atitudes.
Milhões foram às ruas, de cara limpa, coração leve e consciência pura.
Quatro meses depois, as multidões sumiram, afugentadas pelos bandoleiros mascarados dos Black Blocs.
Em junho, 90% do povo brasileiro apoiavam as manifestações.
Hoje, esse apoio caiu para cerca de 30%.
Um brutal descrédito às manifestações de rua que é obra, graça e desgraça da estupidez militante e da boçalidade irracional dos Black Blocs e suas bandeiras sem causa e sem consequência.
É um movimento sem sentido sustentado pela manifestação em si, que se propõe a atacar o capitalismo como suposto braço avançado de uma esquerda mais participativa.
Trata-se de um bando insensato que imaginar derrubar o sistema capitalista apenas espatifando vidraças, quebrando terminais de agências bancárias, rompendo catracas de metrôs, incendiando ônibus.
Usam máscaras e vestem preto, achando que assim se misturam à multidão.
Esquecem que, ao contrário dos Black Blocs, as multidões têm cara própria e as cores vivas e múltiplas que simbolizam a diversidade, não o comportamento militarizado e o padrão idiotizado das milícias da violência indiscriminada.
Nesta equivocada, nesta medíocre visão política, os mascarados da estupidez correm o risco dar um tiro no próprio pé.
A sequência de violência, cada vez mais presente nas telas de TV e nas praças e avenidas cada vez mais esvaziadas pelas multidões assustadas, faz aumentar o clamor por mais repressão.
Os Black Blocs, supostamente de esquerda, estão infantilmente armando o braço da direita mais repressiva, estão reforçando os argumentos pela volta da repressão.
Traduzindo: os Black Blocs, que dizem combater o sistema e a polícia, acabam provocando um efeito reflexo e inverso, fortalecendo o sistema que criticam e reforçando o apoio popular à repressão daqueles que não representam o povo.
Os mascarados dizem pregar a desobediência civil.
Alegam que, ao protestar violentamente, querem apenas mostrar que a polícia e o Estado não têm tanto poder quanto apregoam.
Pois o excesso de violência que exalam pode provocar o efeito contrário: levar o povo a pedir mais força da polícia e do Estado para preservar o espaço que a democracia lhes garante e que os Black Blocs, de forma desastrada, impensada, lhes roubaram.
As multidões que agora se ausentam das ruas e se protegem em suas casas da violência sem sentido dos mascarados não merecem isso.
Na verdade, o povo merece e exige o resgate da paz perdida e do espaço roubado à livre manifestação do povo, que é crítico mas pacífico.
Cabe ao Estado, ao Governo Federal, às autoridades estaduais e aos serviços de segurança, garantir ao cidadão o respeito e o espaço que merecem numa sociedade democrática.
Sem temer o combustível de irracionalidade que ameaça jogar jatos e caminhões-tanques sobre inocentes.
Não devemos temer a máscara dos que usam e abusam da covardia e da violência para impor o argumento da força bruta.
Não podemos mascarar nossa inércia pelo temor de reagir, com a força da lei e o suporte do direito, em defesa dos legítimos interesses do povo brasileiro.
Este é o meu alerta.
Esta é minha esperança.
Muito obrigado.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Os Papas do Século XIII – Tempos de Espiritualidade Renovada

Os Papas do Século XIII – Tempos de Espiritualidade Renovada

Estamos de volta meu povo,
Traçaremos agora o perfil, através da história dos santo padres, de um século importantíssimo para a Santa Igreja. Foi durante o século XIII que surgiram duas das maiores ordens religiosas: os mendicantes de São Francisco e os pregadores de São Domingos. Sou muito suspeito para falar, pois são dois dos santos que mais amo – com perdão a outros grandes homens que viveram o amor a Cristo, como São José Moscatti, São Pio e São Martinho (esse último então, só em mencionar seu nome meus olhos enchem d’água).
Bom, mas o assunto aqui são os ocupantes do trono do pescador, vamos a eles.
papa_inocencio_IIIInocêncio III – Não é exagero dizer que Inocêncio III foi um dos papas mais marcantes e importantes da história. Basta dizer que o mais importante Concílio da Idade Média – o IV Concílio de Latrão – foi convocado por ele.
O nobre Lotário di Segni (nome de batismo de Inocêncio III) era de uma família abastada e teve uma educação requintada. Culto e politicamente consciente da realidade que o cercava, Inocêncio III destacou-se na defesa dos interesses da Igreja e na continuação da Reforma iniciada pelo Papa Gregório no século XI (ver posts anteriores). Reafirmou o controle papal sobre os Estados Pontifícios e ampliou-os, tendo para isso prometido apoio à coroção como Imperador de Otto de Brunswick; este, por sua vez, vacilou feio ao invadir a Sicília, o que levou o papa a transferir seu apoio a Frederico da Sicília.
Enquanto isso, Robin Hood e seus homens alegres (ui!) estavam às voltas com o Rei João Sem-Terra, irmão do falecido e afrancesado Ricardo I Lionheart (é mais bonito que “Coração de Leão”), um cara que – sempre esquecem de falar nos filmes de Roliúdi – apesar de Rei, detestava a Inglaterra. Bom, Little John não ficava muito atrás, e era um Rei muito burro; tão burro que, por causa dele, promulgou-se a primeira constituição. De presente, o Papa deu a João uma excomunhão, porque este recusou-se a reconhecer o arcebispo de Canterbury, Estevão Langton. João do MST então voltou atrás para ter revogada sua punição e, consequentemente, enredou o Papa em seu conflito interno (lembrem-se que não havia internet para acesso rápido a informações) que acabou por julgar improcedente a Magna Carta da Inglaterra. Temos aqui mais uma página da já conhecida revolta dos ingleses com a Santa Igreja. Nunca confie em ninguém do MST.
Inocêncio III foi um lutador tenaz contra as heresias e um dos papas mais odiados pelos historiadores de esquerda, ou seja, 99% dos historiadores (eita profissão escrota). Isso porque ele convocou a única cruzada direcionada a combater dentro do próprio Ocidente: A Cruzada contra os hereges Albigenses ou Cátaros; eternos queridinhos e “pobres inocentes de Cristo” para protestantes e esquerdões em geral. O que somente qualifica-o como um verdadeiro homem de Deus.
papa_inocencio_iii_aprovacao_regra_franciscanos_1
Inocêncio III aprovando a regra dos Franciscanos
Um dos mais dramáticos eventos desde período diz respeito à convocação da Quarta Cruzada. O Papa convocou a cambada de sempre, com a diretriz anteriormente dada pelo Papa Urbano II quando da Primeira Cruzada: LIBERTEM A TERRA SANTA!!!!! Acontece que alguns engraçados resolveram fazer um pequeno desvio para Veneza, e de lá para Constantinopla, a qual caiu pela primeira vez… Derrubada por cristãos. Mas que fique bem claro: NUNCA, EM MOMENTO ALGUM DA HISTÓRIA, O PAPA QUIS DESTRUIR O IMPÉRIO ORIENTAL. Isso fica evidenciado no horror de Inocêncio pelo rumo que as coisas estavam tomando.
Horror era pouco: a barbárie comeu solta na Europa Oriental. O Papa convocou a cruzada, tuuuuuuudo bem. Mas que culpa ele teve de um bando de principinhos malucos tomar conta da situação e resolver fazer o que lhe desse na telha? Esperamos suas cartas.
Em 1215, o papado de Inocêncio encontrou seu auge ao iniciar-se o IV Concílio de Latrão, que apresentou ao mundo a Ordem dos Frades Menores, chefiada espiritualmente por um certo Santo de Assis. Mas seu principal legado, em minha opinião, foi estabelecer um sistema jurídico, que, mais do que tão somente aplicável à Santa Igreja, dirige toda nossa vida até os dias de hoje. As noções de certo e errado que norteiam a sociedade ocidental – independente de crença religiosa, quer goste ou não ateus, chatos, crentes e árabes – são aquelas legadas pelo Concílio de Latrão, e vêm dos tempos de Inocêncio III.
Esse grande Papa faleceu antes de ver seu novo projeto concretizado, a Quinta Cruzada, em 1216. Papa de 1198 a 1216.
Honório III - Continuou a obra de seu antecessor no plano espiritual, livre que estava, até certo ponto, em virtude da estrutura temporal que Inocêncio III havia propiciado à Santa Igreja. Coube a Honório confirmar dominicanos, franciscanos e carmelitas. No campo político, viu o naufrágio da Quinta Cruzada, idealizada pelo seu antecessor. Já deu pra ver que essas cruzadas eram a maior furada. Coroou o Imperador Frederico II e regularizou mais claramente a eleição papal.
Vamos continuar a montar um pouco mais o quebra-cabeça que é a Santa Inquisição. Sempre se ensina que o Papa Inocêncio e os dominicanos são os iniciadores do processo inquisitorial. Verdade, em parte. A direção espiritual da Inquisição realmente pertencia aos filhos de São Domingos, e isso deveu-se muito às normas estabelecidas por Honório III. Por outro lado, vejam que este papa homologou as ordens de Frederico e Luiz VIII (que nunca são citados como co-criadores – fica feio o Imperador de um futuro país protestante e um Rei da pátria amada, salve, salve da esquerdalha participarem desse “crime contra os sábios hereges que combatiam a Igreja malvada”). Nosso embotamento pós-iluminismo que transforma nossa massa encefálica em massa criogênica impede-nos muitas vezes de fazer uma análise com base na realidade.
Em 18 de março de 1227, partiu desse mundo Honório III. Papa de 1216 a 1227.
Gregório IX - Ugolino di Anagni publicou a bula “Licet ad Capiendos”, que instituiu a Santa Inquisição. Era o dia 20 de abril de 1233. Eis o texto da dita:
“Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privar-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis.”





Cadê a foguerinha? Li isso no texto não. Valha-me Deus!!!! E olha que apesar do nome, esse portal aí não é católico e nem pró-Igreja, basta continuar a ler o resto do texto. Fiz de propósito para vocês verem como essa gente é capaz de ludibriar se utilizando até do próprio texto da Igreja. Tem certeza que você, caro leitor, é capaz de interpretar um texto?
Fora Isso, Gregório IX reabriu a Universidade de Paris e modificou o interdito a respeito dos textos de Aristóteles. É isso aí, filosofia grega na veia gente. Aliás, filosofia é filosofia grega, o resto é invenção de desocupado. Enquanto isso, o imperador Frederico II largou as cruzadas e voltou para casa porque, ao que parece, o sol mediterrâneo do Oriente Próximo (não fujam da aula de geografia crianças – Oriente Médio é só Irã e Afeganistão, todo o resto que a reportalhada burra classifica como “Oriente Médio” é na realidade “Oriente Próximo”) fazia mal a sua cútis germânica delicadérrima (na verdade, ele correu da chibata) .
papa_gregorio_iv_imperador_excomunhao
O Papa Gregório IX excomungando o imperador Frederico II. Afresco de Giorgio Vasari, Vaticano
De presente, o imperador fujão ganhou uma excomunhão (eita, que rima horrível!). Para fugir do fogo do inferno e obter o perdão do Papa, Frederico II partiu para Jerusalém. Só que o papa não gostou da gracinha do Fredericão e muito menos de ter um excomungado como líder de um exército cristão de libertação. Isso desencadeou uma guerra de consequências trágicas.  Vencendo as forças do Papa, Frederico acordou uma paz em 1230, que perdurou por algum tempo. Mas, como todo bom imperador, o poder subiu à cabeça do Fredericão e ele achou de fazer do Papa seu títere: queria que o pontífice excomunga-se todos aqueles que se opusessem ao poder imperial. O Papa excomungou… excomungou o imperador pela segunda vez.
Frederico então botou seu bloco na rua e sitiou Roma. Foi mais do que o velho Papa pôde suportar. Debaixo de um calor escaldante e com a cidade tomada, veio a falecer. É bom dizer também que foi Gregório IX que canonizou São Domingos, São Francisco e Santo Antônio de Pádua. Papa de 1227 a 1241.
Celestino IV – O fato mais relevante da eleição de Celestino IV diz respeito ao fato dele ter sido o primeiro Papa a ser eleito por um conclave. Durante 60 dias, oito bispos ficaram reunidos para deliberar a respeito do próximo ocupante do trono de Pedro. Levou Celestino IV, mas só ficou no pontificado por exato 17 dias, nem chegando a ser consagrado e sem desempenhar nenhum ato oficial.
Credita-se a esse ex-monge cisterciense a autoria de uma magnânima “História da Escócia”. Papa em 1241.
Inocêncio IV – Sinibaldo Fieschi foi um lutador. Por conta do imperador Fredericão II, o trono do Papa ficou vacante por dois anos. Inocêncio IV peitou o Imperador e teve que fugir de Roma em 1244, só retornando quando o Imperador faleceu, em 1250.
No exílio, em Lyon, o Papa convocou um Concílio, no qual Frederico II foi considerado perjuro, sacrílego e herege. O imperador apresentou uma defesa que foi aceita, dois anos antes de sua morte. Bom, em 1251 o Papa volta a Roma, mas, como quem sai aos seus não degenera, o herdeiro de Frederico II, Conrado IV, continuou o trabalho do pai de infernizar o vida do Papa, negando a este a supremacia sobre a Sicília. Conrado IV morre subitamente e o Papa se aboleta na Sicília para garantir sua pose contra as pretensões imperiais. Ali veio a falecer, em 1254.
Papa de 1243 a 1254.
Alexandre IV - Por conta das lutas comezinhas desses tempos, o Papa pouco parava em Roma. O filho bastardo de Frederico II, Manfredo, apoderou-se de muitas terras pontifícias. A verdade é que, com os cofres vazios e sem uma força força militar para fazer frente ao bastardo, o Papa acabou quase sempre perdendo os conflitos.
A residência oficial do Papa passou a ser Viterbo e ali ele veio a falecer, em 1261. Papa de 1254 a 1261.
papa_urbano_ivUrbano IV – É engraçado o caso da eleição de Urbano IV (Jacques Panteleão): ele apenas estava passando por Viterbo – dando uma força para a rapaziada envolvida nas lutas pelos Estados Pontifícios – e acabou no trono de Pedro sem nem perceber direito como.
Jacques Panteleão foi eleito patriarca latino de Jerusalém por Alexandre IV. Quanto este morreu, Jacques foi eleito Papa, após uma sede vacante de três meses, e adotou o nome de Urbano. Iniciou o processo de “Chute no rabo” dos Hohenstaufen (a família do imperador Frederico II) pra fora dos Estados Pontifícios e prometeu a Carlos D’Anjou torná-lo rei de Sicília e Nápoles em troca de uma grana (a coisa tava feia), liberdade para a atuação do padres e ajuda militar.
Manfredo, o bastardo, tocou o horror na Toscana e nos Estados Pontifícios. Em Orviedo, por conta da pressão, foi preciso mudar o tratado firmado com Carlos e engolir a eleição de Manfredo como senador romano. Mas Orviedo também foi sitiada e o Papa fugiu para Perugia, onde faleceu em outubro de 1264.
Foi Urbano IV que instituiu o Corpus Christi. Papa de 1261 a 1264.
Clemente IV - Mais um Papa sem casa. Foi eleito, segundo algumas fontes, graças à influência de São Luiz. Foi advogado e soldado. Cumpriu o acordo de seu antecessor, empossando Carlos D´Anjou como Rei da Sicília e Nápoles.
Em Benevento, Manfredo foi assassinado pelo exército francês a mando de Carlos. Aproximou-se da Igreja Oriental. Veio a falecer em Viterbo e foi sepultado no mosteiro dominicano de Santa Maria in Grandi. Em 1885, seus restos foram transladados para Basílica de São Francesco, na mesma Viterbo. Papa de 1265 a 1268.
Gregório X - Sempre que se tem um conclave, ficamos na maior apreensão para saber quem será nosso novo Papa. Agora imagine um conclave que fica reunido por, nada mais, nada menos que… TRÊS anos? Foi isso que aconteceu quando da escolha de Gregório X.
A coisa ficou tão feia que o povo de Roma, depois de três anos, perdeu a paciência e arrancou o teto do palácio (eles estão em Viterbo) onde estavam reunidos os cardeias e ameaçou deixá-los morrer de fome caso não elegessem um Papa JÁ!
papa_gregorio_x_polo
Os irmãos Polo diante de Gregório X
Tedaldo Visconti foi considerado um candidato de consenso. Italiano, não vivera sua vida metido nas picuinhas da terra da pizza. Sua maior ocupação quando eleito não era ser Papa, mas sim os preparativos para Nona Cruzada na Palestina. Ajudou os irmãos Polo, Nicolau e Mateus – tio e pai de Marco Polo, respectivamente – quando eles voltavam da China, governada pelo neto de Genghis Khan, Kublai.
Em Roma, Gregório X convocou um novo concílio, a ser realizado em Lyon, em 1274. Foi no regresso de uma das sessões do concílio que faleceu, em Arezzo (não confundir com marca de sandália).
Por conta da bagunça que acabou virando sua eleição, Gregório X escreveu a bula Ubi Periculum, subsequentemente incorporada no Código de Direito Canônico, que regulava os conclaves que só poderiam durar, no máximo, dez dias.
Foi beatificado em 1713. Papa de 1271 a 1276.
Inocêncio V – Foi chamado de Doctor Formosissimus, tal a beleza de suas pregações. Foi o primeiro Papa dominicano e teve como professores o maravilhoso São Alberto Magno e a maior mente que já viveu neste mundo – São Tomás de Aquino – é pouco ou quer mais? E a gente  aqui “gambando-se” de ser aluno da Tia Teteca.
Destacou-se no II Concílio de Lyon e pronunciou a oração fúnebre de São Boaventura (tanta gente inteligente junta, e aqui “pessoas” acham o Caetano Veloso “ginial”). Uma pena seu pontificado ter sido breve.  Papa em 1276, por apenas cinco meses.
Adriano V - Mal teve tempo de dizer oi. Adriano V foi apenas um nome com algumas realizações e, como Papa, nada pôde fazer. Saiu de Roma durante uma onda de calor (pra quem não sabe, durante a Idade Média, a temperatura variou 10 ºC para cima. As tais desgraças do dito “aquecimento global” segundo a canalha informa nos “telijurnais” dariam-se com uma variante de 2 ºC. Isso é que eu chamo de chamar o povo de idiota – mas claro, o mundo é lindo) e faleceu em Viterbo.
Seu grande legado acabou por ser seu túmulo, considerado uma obra-prima de Arnolfo di Cambio. Papa em 1276.
*****
Temos ainda muita coisa para falar dos Papas do Século XIII, na segunda parte veremos mais desse tempo instigante.
Um abraço e fiquem com Deus.
- See more at: http://ocatequista.com.br/archives/5734#sthash.7jsuCqsf.dpuf

Os Papas do Século XII (Parte II) – Tempos de Cruzadas e de um Certo Barbarossa

Os Papas do Século XII (Parte II) – Tempos de Cruzadas e de um Certo Barbarossa


Voltamos meu povo,
Nesse tempo, os hereges cátaros, hoje tidos como tão bonzinhos, espalhavam-se pelo sul da França, pela Itália e, se contarmos os bogomilos, pela Europa Oriental.  Atualmente, seu pseudo-heroísmo é propalado aos quatro ventos; esconde-se descaradamente o seu dualismo herético doentio, e não consta no mapa da fé o quanto de almas esses seres andaram prejudicando. Mas tratamos isso quando falarmos de heresias. Vamos continuar então com a história de nossos papas. Começando com:
papa_inocencio_ii
Mosaico da igreja de Santa Maria in Trastevere (Roma)
Inocêncio II - Seu papado começou de forma turbulenta (ai, ai). Tendo sido eleito por uma facção composta de jovens cardeais, uma outra, composta por cardeais de mais idade, resolveu eleger o antipapa Anacleto II como sucessor de Honório II (é muito “II”, não acham?”).  Enquanto Inocêncio era consagrado em Santa Maria Nuova in Campo Vincino, o outro grupo consagrou Anacleto em Latrão. E assim permaneceu durante oito anos.
A curiosidade desse período foi o surgimento das famosas profecias de São Malaquias da Irlanda, em que todos os papas da nossa era são apresentados. Por São Malaquias, Bento XVI é o penúltimo. O próximo Papa, Pedro Romano, liderará a Igreja durante o período conhecido como “última grande perseguição”, no qual a Igreja e seus fiéis verão a destruição de Roma e a sede mundial da Igreja passará a ser Jerusalém (medo!). Bom, rezemos então.
Os fatos de maior relevância do trabalho de Inocêncio II foi o apoio dispensado aos Templários, dando-lhes completa autonomia. Além disso, na esfera política, o senado de Roma resolveu que transformaria a cidade numa república, aos moldes do que já ocorria em outras localidades do Norte da Itália. Para tanto retirou o poder temporal do Papa, o que viria a provocar distúrbios por mais de 40 anos. Papa de 1130 a 1143.
Celestino II – Ao contrário de seu antecessor, foi eleito por unanimidade. Durante seu reinado, houve uma celeuma com o Rei Luis VII da França, que acabou por fazer com que o papa levantasse um interdito a todos que dessem abrigo ao Rei dos franceses. Celestino II também  recusou-se a ratificar o tratado que concedia a soberania da Sicília e do sul da Itália a Rogério II. Essa situação com o Rei Rogério só foi atenuada em virtude dos distúrbios internos em Roma e das pressões que sofriam os Estados Pontifícios em suas fronteiras. Seu papado durou cerca de seis meses somente, de 3 de outubro de 1143 a 8 de março de 1144.
indiana_jonesLúcio II – Não estranha não gente, que tem mais Papas “II”.  A vida e morte de Lúcio II foi uma aventura, e no seu curto papado aconteceram coisas de deixar Indiana Jones morrendo de inveja. Eleito em 12 de março de 1144, foi imediatamente consagrado para não abrir brechas para antipapas engraçadinhos.
Foi o Papa Lúcio II que estabeleceu a suserania papal sobre o Condado Portucalense o que, na prática, criou o Estado português, retirando, daquele momento para sempre, qualquer pretensão da coroa espanhola sobre nossa pátria-mãe. Enquanto isso, em Roma, o Senado proto-marxista (tá, tá, é anacronismo, eu sei) botava suas manguinhas de fora e fazia com que os sacerdotes se restringissem às suas atividades espirituais.
O Papa em pessoa organizou uma força militar para botar ordem no galinheiro (é isso aí, Papa tinha que andar sempre com a faca nos dentes e preparado para enfiar a mesma na caveira). Durante um assalto das forças papais ao Capitólio, Lúcio II foi mortalmente ferido a pedradas e veio a falecer no mosteiro de São Gregório, em 15 de fevereiro de 1145. Papa de 1144 a 1145.
Eugênio III - Terminou a sequência de “II”, meu povo! Eugênio III era um Papa austero e honesto. Eleito Papa, manteve o hábito e o estilo de vida dos monges. Foi o responsável pela convocação da 2ª Cruzada, motivada pela tomada de Edessa pelos turcos. Estabeleceu uma reforma clerical e presidiu três sínodos importantes: Paris, Triers e Reims.
Eugênio III prometeu ao Rei Frederico Barbarossa que lhe daria a Coroa Imperial que um dia fora de Carlos Magno. Por sua vez, o Rei garantiu que não faria acordos com o Senado Romano e com os normandos sem o consentimento do Papa, que buscava retomar o poder temporal.
Esse período foi conturbado, muito graças ao senador Arnaldo de Breschia, que buscava colocar no trono de Pedro um Papa que coadunasse suas ambições políticas.
Eugênio III morreu de febre em Tívoli, antes de poder consagrar Frederico. Seu restos mortais jazem ao lado de Gregório VII na Basílica de São Pedro. Foi beatificado em 1872. Papa de 1145 a 1153.
papa_anastacio_ivAnastácio IV – Conrado di Suburra já era avançado em anos quando foi consagrado bispo de Roma. Era um homem de origem humilde e pouco se sabe de seu passado. Foi feroz opositor de Anacleto II, o antipapa que infernizou o papado de Inocêncio II, e graças a isto foi nomeado cardeal-bispo de Sabina.
De espírito conciliador, aproximou-se de Barbarossa, impedindo assim as pretensões dos partidários do senador Arnaldo di Brechia (chamados arnaldistas) ao poder em Roma. Anastácio estendeu os benefícios dados aos Templários a também à famosa Ordem dos Cavaleiros do Hospital (hospitalários).
Quando a fome instalou-se na cidade eterna, o bom Anastácio alimentou o povo com o tesouro papal – é… papas realmente são, invariavelmente, seres humanos terríveis. Onde já se viu, dar comida a quem tem fome?  Partiu desse mundo em dezembro de 1154 e foi sepultado na Basílica de Latrão. Papa de 1153 a 1154.
Adriano IV – Papa “english” men! Aliás, o único até hoje. Coube a Adriano travar a batalha final contra Sauron, ops!, o senador Arnaldo di Breschia, que queria tomar o poder em Roma: com o auxílio de Barbarossa, prendeu e arrebentou, desculpe, executou Arnaldo em 1155. Não era à toa que o nome de batismo do Papa era “breakspear” (quebra lança).  Defendeu com unhas e dentes a primazia papal sobre o poder temporal até o fim de seus dias. Papa de 1154 a 1159.
Alexandre III - E começou outra confusão. Uma minoria resolveu eleger um certo Octaviano como novo Papa (lembranças de João XII) e, com o auxílio do Imperador Barbarossa, excomungar o legítimo ocupante do trono, Alexandre III. Graças ao apoio dos reis da França e da Inglaterra, Alexandre foi confirmado como Papa.
Só que as coisas não se resolveram assim de forma tão simples. Com as tropas do Imperador Barbarossa ocupando Roma, o Papa não pôde retornar à cidade, tendo que viver na França. Foi por meio de um convite do próprio povo romano que Alexandre III pôde voltar.  Mesmo assim, teve que engolir o despotismo de Barbarossa, que fez subir ao poder mais dois antipapas em sequência: Pascoal III e Calisto III. Só depois de um quebra-pau violento, em 1178, Alexandre teve um pouco de sossego. Mesmo assim, no ano seguinte, arrumaram outro antipapa: Inocêncio III.
Um grande marco histórico para nós que vivemos em Pindorama foi o reconhecimento formal da Igreja da Independência portuguesa e do seu primeiro Rei, pai da nação, Dom Alfonso Henriques em 1179. Alexandre III não teve sossego nem depois de morto, pois os revoltados da comuna romana profanaram seu corpo que jazia na Basílica de Latrão. Papa de 1155 a 1181.
Lúcio III – A inquisição gera o maior dos blá-blá-blás anticatólicos. Bom, já falei um pouco dela aqui no blog e ainda falaremos muito ao logo da história dO Catequista, pela glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mencionei isto porque foi o Papa Lúcio III que lançou as bases da Inquisição medieval e do tribunal do Santo Ofício. Só mais um dado para enriquecer a luta contra as inúmeras mentiras divulgadas sobre essa história: em Toulosse, centro principal dos hereges Cátaros, num período de 100 anos, 42 pessoas foram executadas.  Isso é lá um número de execuções que justfique a fama de um tribunal impiedoso e sangrento? Detalhe: havia uma guerra ali! Toulosse foi o local em que mais pessoas “inocentinhas” foram condenadas. Outra coisa, a Inquisição foi a primeira instituição de cunho jurídico a desconsiderar a confissão sob tortura como válida.
Lutando contra os rebeldes romanos e contra as reivindicações da condessa Matilde de Toscana, Lúcio III pediu o auxílio de Barbarossa. O Imperador, avançado em anos, queria coroar seu filho Henrique IV. Não houve acordo e, antes que o imperador se jogasse contra o papado de vez, Lúcio III faleceu em novembro de 1185. Papa de 1181 a 1185.
barbarossa
O temido Imperador Barbarossa (barba ruiva)
Urbano III – Foi pé na porta e soco na cara. Recusou-se a coroar como co-imperador o filho de Henrique VI, suspendeu o patriarca da Aquiléia por coroar o filho do rei da Itália, recusou o candidato do imperador à sucessão e apoiou uma revolta contra o imperador, entre outras coisas. Mas, no final, teve que se render à força maior do Barbarossa. Exilado em Verona, Urbano III foi expulso de lá pelas autoridades da cidade que apoiavam Barbarossa. Enquanto se dirigia a Ferrara, adoeceu e morreu. Papa de 1185 a 1187.
Gregório VIII - Ao contrário do seu antecessor, buscou uma política mais “paz e amor” com o Imperador Barbarossa. Foi um reformista, que buscou coibir a participação do clero em lutas armadas (o Frei Tuck, de Robin Hood, não ia se criar com esse papa). Iniciou os preparativos para uma nova cruzada e tentou convencer o Barbarossa a embarcar nessa, empreitada na qual não obteve sucesso. Durante uma viagem de Ferrara para Roma, adoeceu e morreu (tinha algum “problema” essa estrada de Ferrara, não?). Papa de em 1187.
Clemente III – Foi durante o seu papado que o Barbarossa partiu desse mundo, tendo morrido afogado com o peso da própria armadura após cair de seu cavalo ao atravessar uma ponte (convenhamos, uma morte meio idiota). Seu papado foi marcado pelos preparativos para a terceira cruzada.
Clemente III foi o primeiro papa romano eleito desde a revolta dos arnaldistas. Seu nome foi bem aceito pelo povo; seu caráter bondoso e conciliador facilitou a assinatura de um tratado entre os defensores da Roma secular e os defensores da Roma mais espiritualizada. Isso, de certa forma, foi o lançamento das ideias que levam ao nosso “estado laico”, da mesma forma que os arnaldistas são os tetravôs do movimento revolucionário. Os Estados pontifícios, tomados pelo Barbarossa, foram restituídos à Santa Igreja. Teria sido Clemente III a coroar o novo imperador, mas faleceu subitamente antes que esse chegasse a Roma. Papa de 1187 a 1191.
Celestino III – Esse papa teve problemas sérios com a irresponsabilidade do novo Imperador: Henrique VI, ao voltar para a Alemanha, começou a nomear bispos a torto e a direito (com ordem de quem, bwana?).
Além disso, Henrique encarcerou o Rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão, vitorioso da terceira cruzada e sob proteção do Papa. O papa demorou a se manifestar contras as arbitrariedades de Henrique, bem como contra seu plano de promover a união entre o Sacro Império e a Sicília como reino hereditário e permanente.
Henrique faleceu em 1197.  Velho e doente, o papa pretendeu renunciar em favor do cardeal Giovanni de Santa Prisca, mas sua proposta foi recusada pelo colégio cardinalício. Papa de 1191 a 1198.
*****
Terminado o século XII, iniciaremos agora um período onde veremos a atuação das ordens mendicantes – A Ordem dos Frades Menores, de São Francisco de Assis e a Ordem dos Irmãos Pregadores, de São Domingos. Os próximos posts serão dedicados a melhor conhecer e entender os motivadores dessas duas grandes ordens, tão importantes para nossa amada Igreja.
Aguardem.
- See more at: http://ocatequista.com.br/archives/5608#sthash.vy67Alxe.dpuf

Os Papas do Século XII – A Era das Cruzadas (Parte I)

Os Papas do Século XII – A Era das Cruzadas (Parte I)


cruzadas
É isso aí meu povo!
Estamos iniciando aqui mais um momento fantástico dessa história fascinante contada através das vida dos nossos pontífices.
O século XII da Nossa Era é-me especialmente caro porque estão aqui plantadas as sementes da Santa Inquisição, assunto que me fascina a 25 anos ou mais, e ao qual dediquei grande parte de meus estudos. Foi estudando a Santa Inquisição que deixei de ser um idiota ateu anticatólico e passei a ver com clareza a luz da Santa Igreja.  Interessa-me, fique claro, a Santa Inquisição Medieval; nem adianta perguntar-me sobre Inquisição Espanhola, pois não sou especialista neste último assunto, muito embora tenha conhecimento suficiente para desqualificar esses professorezinhos boçais que andam por aí.
Deixando de lado a viagem egocêntrica, passemos a falar um pouco sobre os pontífices desse tempo interessante e um tanto quanto (para variar) turbulento.
Pascoal II - Sucedeu Urbano II. Este papa institui três das Ordens cavaleirescas mais famosas de todos os tempos: os Templários, de tão triste lembrança (saibam porque em breve, aqui nO Catequista), os Cavaleiros Teutônicos – dos quais fazia parte a famosa casa dinástica dos von Hohenzollern (calma, também falaremos mais dos Hohenzollern; adoro escrever esse nome; em futuro próximo) – e os Cavaleiros da Ordem de São João, mas conhecidos como Hospitalários.
Não associam o nome às pessoas? Observem, com certeza vocês já viram no cinema, num livro ou num museu uma representação de uma dessas três ordens. Vejam como é fácil distingui-las: Templários usam túnica branca com uma cruz vermelha; os teutônicos também usam uma túnica branca, mas a cruz é preta; já os hospitalários usam uma túnica negra com uma cruz branca, Fácil não? Mas chega de falar de personagens de RPG, seguimos falando do Papa Pascoal II.
papa_pascoal_encarcerado
O imperador Henrique V pressionando o Papa Pascoal II
Um dos documentos históricos mais interessantes dessa época é a carta direcionada ao Santo Padre por Godofredo de Bouillon descrevendo a tomada de Jerusalém ocorrida em 1099, ano que Pascoal ocupou o trono de Pedro. Enquanto isso, no Sacro Império, Henrique V passou a mão na coroa de seu pai e, a partir daí, começou uma campanha para revogar muitas das reformas feitas pelo Papa São Clemente VII.
Pascoal II fechou os olhos para muitas investiduras (ordenações de bispos) ilegais e acabou tendo o povo contra si. Numa jogada popularesca, no dia de sua coroação oficial, Henrique V, sob pressão dos populares “botou na conta do Papa” as investiduras fraudulentas que ele fizera, que acabou encarcerado. O que Henrique queria era ter o poder de investir sua rapaziada como bispos, coisa que só o Papa poderia fazer. Bom, ocorre que, depois de dois meses, o Papa cedeu a pressão de Henrique V, que poderia colocar como bispo quem ele quisesse, desde que o Papa aprovasse sua indicação, o que, na prática, era apenas uma formalidade,  já que o Papa não queria ir pro xilindró de novo.
O Imperador Henrique V, se fosse hoje, seria o rei do bullying. Depois de dar o cuecaço em meio mundo, continuava em cima do Papa enchendo o saco. Exigiu que o Papa não o excomungasse (motivos tinha de sobra) . Na ocasião dos distúrbios em 1116 que obrigaram o Papa a sair da cidade e refugiar-se em Benevento, o Imperador ficou na dele. No ano seguinte, veio o Próprio Henrique V arrumar encrenca (veio e ficou, diga-se). Lá vai o Papa para Benevento de novo. Retornou para Roma apenas em 1118, pouco antes de sua morte. Faleceu silenciosamente em Castel Sant´Angelo. Foi enterrado na Basílica de Latrão, uma vez que a Basílica de São Pedro estava sobre poder das forças imperiais. Papa de 1099 a 1116,
Gelásio II – Pobre Papa foi esse senhor. Muita tormenta num papado curto. Eleito papa secretamente no Mosteiro de Santa Maria in Pallara, esse monge beneditino acabou logo depois preso e espancado pela família patrícia à qual tinha jurado lealdade.
Fora isso, quando o povo de Roma e as famílias aristocráticas conseguiram sua liberdade, o Papa acabou tendo que fugir, pois o Imperador “te pego lá fora” Henrique V estava a caminho para aplicar mais cuecaços.  Resultado: quando o Imperador quis chamar o Papa para um “papinho” (eita trocadilho ruim), este se recusou, o que levou nosso amigo Henrique a colocar um português – com fado, bacalhau, toucinho do céu e tudo mais – como antipapa.  Este assumiu o nome de Gregório VIII.
Gelásio II, então, fez o que era sua obrigação: excomungou Henrique V e o antipapa Gregório VIII e espalhou a notícia por todos os reinos da cristandade. Aí o bicho pegou! Uma exército com base em Capua se formou e levou a guerra até as forças de Henrique em Roma, que tratou de escafeder-se.  Mesmo sumindo, o Imperador deixou a cidade sobre o controle de seus exércitos. Para evitar um banho de sangue, o Gelásio II e seus bispos resolveram se retirar para Cluny, na França, local do qual o Papa não retornaria. Papa de 118 a 1119.
Calisto II – Esta é a era dos Papas “II”. Calisto II reafirmou a excomunhão de Henrique V. A coisa tava muito feia. Um imperador excomungado, naquele tempo, era considerado um grande m%¨&$%&%&%$&¨*&*(&*erda. Espiritualmente, podemos ver, o Imperador dependia muito do Papa. Os príncipes alemães, preocupados com esse estado de coisas, pediram que o Imperador começasse a negociar a situação melhor com o Papa.
Antes de continuarmos, vamos recapitular… Para não dizerem por aí que titio aqui não tá explicando direito, precisamos deixar claro o que foi a questão das investiduras. Então, abrimos aqui esse razoável parênteses:
Vem da época dos reinos visigodos a pretensão dos chefes temporais de nomear quem eles bem quisessem para ocupar os cargos eclesiais, controlar suas ações e, principalmente, colocar aí gente que dançasse de acordo com sua música, como tudo que vem do Estado (isso vale até hoje), onde a mãozinha podre de Reis, Duques e membros do PT pousa, apodrece. Só que Deus não abandona os seus: por volta de 900 surgiram ideais e centros de reforma católicos, cujo o mais famoso com certeza é a Abadia de Cluny (QG dos Cistercienses), de onde partem grupos renovadores para a Bélgica, Itália, Espanha, Inglaterra, etc.
A Abadia de Cluny foi fundada em 910 pelo P**** das Galáxias da época Guilherme, Duque da Aquitânia; foi doada para a Igreja durante o papado do monstrossauro Sérgio III, com a condição de que fosse administrada pelos monges. Isso era uma novidade já que, com essa base, em Cluny só tinha monge de primeiríssima linha. Seu exemplo pungente espalhou-se por todos a cristandade e seus monges eram convocados para mostrar como a coisa funcionava. Eles faziam mais ou menos uma espécie de workshop medieval de funcionamento de mosteiros.
Se observamos bem, a questão das investiduras (eleição de bispos), em que se levava em conta o interesse mais do Cappo local do que realmente a vocação da Igreja, é a base de muitos problemas, como simonia e “padres casadoiros”.  Claro que os historiadores boçais que enchem nossas cátedras da época do iluminismo até os dias de hoje tiram o peso da culpa do seu amado “Estado” e o jogam pra cima da Igreja. Pesem e pensem: quantos bispos safados os papas nem tinham a menor ideia que foram investidos? Era com essa sacanagem que São Leão IX estava lutando e que levou à reforma de Clemente VII.
Agora, acho que vocês, caros leitores desse  humilde blog, já têm um pouco mais de munição intelectual contra os sem-vergonha que querem atacar nossa Santa Igreja.
Voltando ao Papa Calisto II… Em 1122, o Papa assina a Concordata de Worms, que levava a uma definição essa questão das investiduras. Para tanto, Calisto assegurou ao “Imperador Bullying” a promessa de que não haveria investiduras sem a sua presença na Alemanha. No ano seguinte, durante o Concílio de Latrão, o Papa confirmou o postulado da Concordata de Worms e reafirmou a reforma promovida por São Clemente VII. Morreu em dezembro de 1124 e está sepultado ao lado de Pascoal II na Basília de Latrão. Papa de 1119 a 1124.
Honório II – Segura a onda gente, tem mais Papa “II” vindo por aí. Sobre Honório, pesa a acusação de que teria sido eleito através de suborno. Bem, isso não ficou muito claro para mim ainda, e prefiro não afirmar nem que sim nem que não. Fora isso, seu papado foi marcado pelas reformas. Foi um Papa bondoso e ajudou muito as ordens religiosas. Pregou também as virtudes morais e combateu o mal dentro da Igreja com todas as suas forças. Se todo Papa dessa época advindo de eleições ganhas com suborno fossem como ele…
Foi marcante no seu papado a concepção da ideia, vinda dos cônegos de Lyon, da Imaculada Conceição de Maria, ocorrida em 1125. Lamberto Scannabecchi (Honório II) foi um garoto pobre, um self-made man por assim dizer, estudou muito e conseguiu por mérito e esforço próprios as mais elevadas posições e funções da hierarquia durante os pontificados de Pascoal II e de Calisto II. Foi um dos signatário da Concordata de Worms e foi muito influente no Concílio de Latrão, que veio a ratificá-la (1123).
Foi eleito papa com o apoio da família Frangipane, após a morte (1125) do imperador Henrique V. Durante seu pontificado, o santo padre foi aos poucos reconquistando o terreno que o “Sr. Bullying” (pra quem não sacou – Henrique V) tentou abocanhar para si.
A tendência mafiosa dos italianos não deu sossego a Honório II. Os últimos meses de seu pontificado foram extremamente conturbados pelo acirramento das lutas entre os Frangipane, seus aliados, e os Pierleoni. Acuado, o papa  de número 164 refugiou-se no convento de S. Gregorio al Celio, onde morreu em 13 de fevereiro (1130), e foi sucedido por Inocêncio II, (olha outro “II” aí, gente!). Foi durante seu pontificado que surgiram na Itália as seitas dos Guelfos, partidários do Papa, e a dos Gibelinos, partidários do Imperador, mas isso ainda é uma outra história, como diria o cronista do Conan. Papa de 1124 a 1130.
Continua…
- See more at: http://ocatequista.com.br/archives/5042#sthash.hsFkqaRP.dpuf

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Santo Inácio de Antioquia Heróico pastor, mártir destemido

Vidas de Santos
Santo Inácio de Antioquia
Heróico pastor, mártir destemido



Discípulo do Apóstolo São João, bispo de Antioquia, um dos primeiros e mais ilustres Padres da Igreja
Plinio Maria Solimeo
Segundo antiga tradição, Santo Inácio de Antioquia foi o menino que Nosso Senhor Jesus Cristo abraçou quando disse:"Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas àquele que me enviou" (Mc 9, 37). [gravura à esquerda]. Pertence igualmente à tradição ter sido ele, com seu amigo São Policarpo, discípulo do Apóstolo São João.
Faltam-nos outros dados biográficos do santo. Felizmente, deixou ele sete cartas, todas consideradas autênticas. Além da manifestação de seu zelo pelas almas, elas oferecem alguns dados sobre sua prisão. Junto com as cartas, chegou-nos dos tempos antigos um relato de seu martírio (The Martyrdom of Ignatius), provavelmente escrito por Philo (um diácono de Tarso) e por Rheus Agathopus, um leigo sírio que acompanhara Santo Inácio em sua prisão até Roma. Muitos historiadores o consideram autêntico, no entanto crêem ter havido nele várias interpolações. Tomaremos como base esse relato e as cartas do santo.(1)
Antioquia, a "capital do Oriente"
Santo Inácio foi o terceiro bispo de Antioquia — logo depois de São Pedro e Santo Evódio — sagrado diretamente por um dos Apóstolos, provavelmente o próprio São Pedro.
Antioquia situava-se às margens do rio Orontes, localizada então na Síria, e corresponde hoje à moderna Antakya, na Turquia. Fora fundada em fins do século IV a.C. por Seleuco I, e Nicanor tornou-a capital de seu império. Ocupa lugar de destaque na história do cristianismo. São Paulo pregou pela primeira vez numa sinagoga em Antioquia, e nela os seguidores de Jesus Cristo tornaram-se conhecidos como "cristãos" (At 11:26). Era a terceira cidade do Império Romano, logo depois de Roma e Alexandria. Devido à sua situação e às relações comerciais, era considerada a capital do Oriente.
Um pastor, líder preparado e atento
Ruínas da antiga Antioquia
Estava Santo Inácio ocupado em seus afazeres episcopais quando o imperador romano Domiciano (81-96) — o primeiro a deificar-se, assumindo o título de "Senhor e Deus" — apresentou-se como regenerador da moral e da religião (pagã) do império, apesar de seus vícios na vida privada. Como tal, empenhou-se em "cortar pela raiz a religião dos galileus", então florescente em várias partes do império.
"O bispo de Antioquia possuía em grau eminente todas as melhores qualidades do pastor ideal e do verdadeiro soldado de Cristo. Desse modo, quando a tormenta da perseguição de Domiciano eclodiu com fúria sobre os cristãos da Síria, encontrou seu fiel líder preparado e atento. Ele era incessante em sua vigilância, e incansável em seus esforços para inspirar esperança e fortalecer as mais fracas de suas ovelhas contra os terrores da perseguição".(2)
Quando cessou essa tormenta com a morte de Domiciano, sobrevindo relativa paz, Santo Inácio procurou preparar seus fiéis para uma nova possível perseguição, dando-lhes o exemplo de destemor e espírito sobrenatural com que deveriam enfrentá-la. Ressaltava que não há graça maior do que dar a vida por Cristo, que ofereceu sua vida por nós.
Eloqüência, coragem e martírio
Ascendeu ao trono imperial Trajano (98-117), um dos mais hábeis imperadores romanos, que estendeu as fronteiras do Império para além das margens do Reno até às do Danúbio, promoveu o comércio e a indústria e fez grandes edificações para seus serviços administrativos. Apesar de tão vasta visão administrativa, esse imperador considerava o cristianismo como crime punível de morte.
    Ensoberbecido pela vitória contra os síncios e os dacianos, Trajano procurou obter também uma conquista religiosa no Império. Para isso determinou que todos os cristãos deveriam unir-se aos pagãos na adoração dos deuses imperiais, e seriam perseguidos e levados à morte os que a isso se negassem. Entretanto, devido a um farisaísmo mal disfarçado, não admitia delações. E Tertuliano, famoso escritor eclesiástico que viveu entre os séculos II e III, exclama a propósito dessas medidas:"Proíbe-se buscar os cristãos como sendo inocentes, mas se os condena como culpáveis. Perdoa-se e se castiga. Não é isso uma contradição palpável?".(3)
Trajano visitava Antioquia quando seus editos foram publicados, e quis pô-los em execução imediatamente ali mesmo. Evidentemente a figura de Santo Inácio era a que mais se destacava entre os cristãos, e ele foi preso e levado à presença do imperador. Seu testemunho da fé diante de Trajano, de acordo com o relato, foi caracterizado por inspirada eloqüência, coragem sublime, e mesmo certa exultação. Mas isso não impressionou o imperador. Pelo contrário, este ordenou que o acorrentassem e o enviassem a Roma, para ser alimento das feras e um espetáculo para o povo.
"Vou lutando contra feras, por terra e por mar"
É provável que o santo tenha embarcado em Selêucia, o porto mais próximo de Antioquia. Em Esmirna, onde São Policarpo era bispo, cristãos de várias comunidades da Ásia Menor foram saudá-lo. Entre eles estavam cristãos de Éfeso, Magnésia e Trales, que o foram confortar. Para cada uma dessas comunidades ele escreveu, confirmando-as na fé, exortando-as à obediência aos respectivos bispos e a evitarem qualquer contaminação com a heresia. Essas cartas revelam sua extrema caridade cristã, seu zelo apostólico e suas preocupações pastorais.
Em sua carta aos Romanos, escrita durante uma parada em Esmirna, o ínclito herói de Jesus Cristo diz: "Da Síria mesmo até Roma, vou lutando contra feras, por terra e por mar, de dia e de noite, encadeado entre dez leopardos, quer dizer, um bando de soldados que me custodiam, e que, mesmo quando recebem benefícios, mostram-se ainda piores. Entretanto, sou instruído por suas injúrias [para agir como um discípulo de Cristo]; 'contudo não sou por isso justificado' (1 Cr 4, 4).Possa eu gozar com as feras que estão preparadas para mim. E rezo para que elas possam estar pressurosas em atirar-se contra mim, pois eu também procurarei atraí-las para que me devorem depressa, e para que não ajam comigo como com alguns a quem, por medo, não tocam".(4) Suplicou-lhes também que nada fizessem para evitar seu martírio.
Em outra interrupção da viagem, em Troas, escreveu aos cristãos de Filadélfia e Esmirna e a São Policarpo.
"Eu sou o trigo de Deus, deixe-me ser moído"
Tendo chegado a Roma, dizem os autores do relato: "Encontramos os irmãos [na Cidade Eterna] cheios de temor e de alegria, regozijando-se de fato, porque foram julgados dignos de se encontrar com Teóforos [nome que Santo Inácio atribuía a si mesmo em suas cartas], mas também com temor, porque homem tão eminente estava sendo levado para a morte".(5) O santo confortou esses destemidos cristãos, exortando-os a permanecer fiéis à sua fé e ao amor fraterno. Ajoelhando-se com eles, suplicou ao Filho de Deus que protegesse suas igrejas e terminasse a cruenta perseguição. Mas foi interrompido por seus carcereiros e levado imediatamente para o anfiteatro, para ser devorado pelas feras.
Martírio de Santo Inácio
Quando os animais se precipitaram sobre o herói de Cristo, seu pensamento deve ter-se firmado no que ele escreveu em sua carta aos Romanos: "Eu sou o trigo de Deus, deixe-me ser triturado pelos dentes das feras selvagens, para que possa tornar-me um puro pão de Cristo. [...] Que venham sobre mim o fogo e a cruz; a multidão de feras selvagens; o rompimento, a quebra e o deslocamento de meus ossos; que venham sobre mim o decepamento de meus membros, a fragmentação de todo meu corpo, e todos os espantosos tormentos do demônio, contanto que eu chegue a Jesus Cristo".(6)
Os autores do relato o concluem do seguinte modo: "Tendo sido testemunhas oculares dessas coisas, e tendo passado a noite inteira em casa derramando lágrimas, e tendo conjurado o Senhor, com os joelhos dobrados e muitas preces, para que Ele nos desse, a nós homens fracos, uma garantia a respeito desses fatos, ocorreu que, tendo caído numa breve sonolência, alguns de nós viram o bem-aventurado Inácio de repente, de pé junto a nós e abraçando-nos; enquanto que outros o contemplaram rezando por nós, e outros ainda o viram junto do Senhor, transudando suor, como se tivesse vindo naquele momento de um grande trabalho. Quando, desse modo, testemunhamos com grande alegria essas coisas, comparando nossas várias visões, cantamos louvores a Deus, o doador de todas as coisas".(7)
O martírio de Santo Inácio de Antioquia, cuja festa se comemora no dia 17 deste mês, deu-se no 11º ano do reinado de Trajano, isto é, por volta do ano 110.
___________
Notas:
1. Utilizamos esses documentos contidos no CD da organização americana New Advent (www.NewAdvent.org), Kevin Knight, 2007.
2. John B. O'Connor, St. Ignatius of Antioch, The Catholic Encyclopedia, CD edition.
3. In Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, p. 211.
4. The Epistle of Ignatius to the Romans, cap. 5, New Advent CD.
5. The Martyrdom of Ignatius, cap. 6, New Advent CD.
6. Epistle to the Romans, caps. 4 e 5, New Advent, CD.
7. The Martyrdom of Ignatius, cap. 7, id., Ib.