quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Papas do Século XI (parte I) – tirando o pé da lama


Papas do Século XI (parte I) – tirando o pé da lama


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E aí meu povo, estamos de volta.
Depois das coisas terríveis acontecidas durante a pornocracia no século X e do dobrado pelo qual passou a Igreja durante os primeiros tempos do Sacro Império Romano, chegamos ao século XI.  Poderíamos achar que a decadência espiritual do século anterior afundaria a Igreja, mas o que se deu foi justamente ao contrário: sua autoridades espiritual se fez mais e mais presente no mundo, e suas obras a partir desse século foram responsáveis por toda estruturação da sociedade ocidental.
O professor de história medieval da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Paulo André Parente, em uma de suas aulas disse: “a hegemonia espiritual da Igreja Católica no Ocidente durante a Idade Média, se existiu, deu-se tão somente no século XI”.  Entenderam? Mais uma prova de que a propalada “hegemonia” – ou seja, aquele velho papinho de que a Igreja Católica era toda-poderosa e tinha um mega poder na Idade Média – deu-se apenas durante um curto período, não cabendo aos detratores ficarem destilando suas bobagens por aí.  A Igreja de Nosso Senhor Jesus sempre teve que lutar, lutar muito contra as mazelas do mundo.
Então vamos aos Papas do século XI.
papa_silvestre_ii_inventorSilvestre II – Vive la France! Gerbert D’Aurillac foi o primeiro Papa francês da história. Sucedeu Gregório V, sendo muito querido do Imperador Oto III, que foi seu aluno 20 anos antes. Monge beneditino,Silvestre II foi um grande intelectual.Atribui-se a ele a invenção do relógio mecânico, dando prosseguimento aos ideais de São Nicolau.
Esse papa foi um dos principais idealizadores da universalidade da Igreja - ou seja, a grosso modo, podemos dizer que ele desejava que a Igreja fosse mais “católica” do que “romana”.
Bom, a rapaziada em Roma não curtiu muito a ideia de universalidade – afinal, eles temiam perder o seu poder de influência local – e, de forma não muito delicada, retiraram tanto o Papa quanto o Imperador da Cidade Eterna, a qual o pontífice retornou em fevereiro de 1001.
Reparem que esse foi o Papa do milênio, época em que muita pitonisa, assim como aconteceu no ano 2000, previa o fim do mundo. Denunciou a simonia (venda de bens espirituais), o nepotismo, as violações do celibato e possibilitou aos monges a eleição do abade dentro do monastério. Foi sepultado na Basílica de Latrão. Papa de 999 a 1003.
João XVII - Era um passo para frente e outro para trás.  João XVII foi um papa daquele tipo “nada a acrescentar”. Colocado no trono de Pedro por João Crescentii – Capo dos Crescentii, a poderosa família romana – seu papado durou apenas seis meses.
Sobre esse papa pairam mais dúvidas que certezas. Reparem que não falei de nenhum papa João XVI. Isso ocorre porque entre João XV e XVII houve o antipapa João XVI, e João XVII embarcou nessa contagem furada. Em outras palavras, oficialmente, não existe um papa João XVI. A única coisa interessante ocorrida nesse curto período foi o início da evangelização dos eslavos (para quem não sabe: poloneses, sérvios, russos, bogomilos etc.). Papa de maio a novembro de 1003.
papa_joao_XVIIIJoão XVIII – Durante o pontificado de João XVIII, os Crescentii deram mole e Gregório Tusculano – chefe da tenebrosa família Teoficalto – assumiu o poder temporal da cidade. Nos bastidores, se tramava um retorno aos tempos negros de Marózia Teofilacto.
Gregório apoiou o papa João XVIII, mas tencionava colocar no trono de Pedro um de seus filhos – não o fez por serem ainda crianças. Dessa vez, o Espírito Santo deu à Santa Igrejaum grande Papa. João XVIII foi um grande realizador e trouxe a paz em vários territórios sobre influência da Igreja Católica. Era um lutador, e insistiu para espalhar o cristianismo nos lugares onde o paganismo ainda era uma realidade viva.  Canonizou santos mártires poloneses e insistiu no trabalho iniciado por João XVII.
Velho e cansado, abdicou do trono e foi viver seus últimos dias como monge na Basílica de São Paulo Fora-dos-Muros, servindo aos mais humildes. Durante seu pontificado a cristandade uniu-se como a muito não se via.  Embora essa situação tenha esboroado com a morte de João Crescêncio, que era simpático aos bizantinos. Papa de 1004 a 1009.
Sérgio IV – Chamava-se Pietro Boccapecora. Mudou seu nome para Sérgio para não ser confundido com o Santo Apóstolo.
Realizava um bom papado quando, em 1012, durante uma revolta, veio a falecer.Suspeita-se que tenha sido assassinado juntamente com o chefe da família Crescêncio, João II. Foi sepultado na Basílica de São João de Latrão.
Bento VIII – EITA! Olha aí… Outro Papa Teofilacto! Isso mesmo, Bento VIII era Teofilacto, da família ascendente tusculana (se você não conhece a história dos Teoficalto, clique aqui para entender). E, para piorar, Bento VIII inaugurou uma série de três papas leigos, todos Teofilactos. Era um milicão, um tipo de “seu puliça”.

O papa Bento VIII em ação
Apesar do que possa parecer, não foi um mau papa.  Era rígido e defendeu com unhas e dentes as propriedades eclesiásticas e os direitos espirituais da igreja contra abades engraçadinhos que achavam que podiam fazer o que lhes desse na telha.  Chutou de volta os sarracenos para longe das praias italianas.  Era severíssimo no que tange à questão do celibato, inclusive reduzindo à servidão subdiáconos “casadoiros”.
Está sepultado na basílica de São Pedro. Papa de 1012 a 1024.
João XIX – Era irmão do antecessor, ou seja, outro Teofilacto. Quando se lembra de um certo sobrinho neto desse Papa que usava o mesmo nome (João XII), chega a dar arrepios! Passou de leigo a Papa no dia de sua eleição (pra lá de ilegal). Nunca esteve tranquilo, vide o passado da família e a sua eleição.
Chovem acusações contra seu pontificado, principalmente de simonia, mas nada nas fontes leva a crer na veracidade das acusações. Papa de 1024 a 1032.
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Já pensou se houvessem quatro papas coexistindo – validamente eleitos – em vez de um só? Impensável, não? Contaremos esta e outras histórias na parte II sobre os papas do século XI. Acompanhem!

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