segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MAGNO MARTINS.........Meu santuário é o Sertão. Feliz Natal!

Meu santuário é o Sertão. Feliz Natal!



Já viajei muito. Conheço praticamente todo o Brasil em se tratando de capitais
. Cruzei boa parte da Europa, de vez em quando vou aos Estados Unidos visitar
 meus filhos, passei por vários países da América do Sul e estive até na Finlândia,
 onde curti o sol da meia noite.
A profissão, felizmente, tem esse lado bom, que me propicia oportunidades.

 Mas o meu lugar sagrado, verdadeiro santuário, é o Sertão. Natal, para mim,
 é beijar a pedra, tradição de família. É ir direto a fonte: o Pajeú, em Afogados
 da Ingazeira, a 386 km do Recife.
Não é perante o santuário que buscamos o perdão dos nossos pecados, as

 benções celestiais e a renovação das esperanças?O Sertão é mais do que 
um santuário.
É um tabernáculo. Se você não sabe, o tabernáculo foi erguido no deserto

 um ano depois da páscoa quando os Israelitas foram livrados da escravidão
 egípcia.
Era uma barraca móvel com mobília portátil que podia ser transportada onde

 quer que eles lançassem acampamento. Deus sabia que o povo precisava
 de uma presença visual, tanto que Moisés subiu ao monte Sinai e passou 40
 dias ali.
As pessoas impacientes juntaram ouro e fizeram um bezerro visível para

 adorá-lo em lugar de Deus, neste ato demonstraram a necessidade em 
seguir algo visível. O tabernáculo do Sertão requer uma espera enorme.
E tem gente que não suporta a espera por causa do calor insuportável. 

Em todos esses anos de Natal com meus pais nunca vi seca maior.
 Meu santuário virou sinônimo de dor, sofrimento, tragédia, desespero,
 aflição.
Por isso, quem passa por aqui e não tem a pele curtida pelo seu sol

 abrasador acha que Sertão é habitat apenas de urubu, gavião, gaivota,
 esses pássaros que estão sempre no alto, apalpando ares com o olhar
 remedindo as misérias todas do Sertão.
Maltratado, meu santuário se reflete num grito de dor dos seus poetas. 

'Não tenho mais pranto/meus rios secaram todos/meu rosto é espelho 
desse chão/rasgado por sulcos profundos/ sou do sertão/ levo a vida 'severina'.
Ao invés do grito de dor, o poeta bem poderia fazer a súplica por chuva,

 como Patativa do Assaré: 'Desculpe, eu pedia a toda hora/pra chegar o
 inverno/desculpe, eu pedi para acabar com o inferno/ que sempre queimou
 o meu Ceará'.
Oh, chuva, chega logo! Vem molhar o nosso Sertão, porque meus olhos 

só veem galhos secos, cinzentos, que mais parecem raízes alheias ao 
vento que sopra trazendo rarefeita ilusão.

Enfrentar um dia de sol na maior seca dos últimos 50 anos é como

 que dar um passo ao túmulo, porque aqui se vive morrendo no dia
 e ressuscitando de noite.
Porque, felizmente, meu santuário durante a noite e madrugada é

 encanto e sedução. O céu floresce, nos embriaga de beleza com
 o seu azul anil e nos seduz. Não há flores belas nesta época, mas
 a estrelas formam um jardim de luz.
Seria lindo o meu sertão com água, porque basta uma gota de orvalho

 numa folha seca de palma para ela florescer. E a asa branca, com o
 seu canto, fazer o caminho de volta.
Meu santuário, sem chuva, virou um deserto. Dá uma sensação horrível

 de um eterno vazio. Mas a vida não precisa de vazio também? A lagarta
 dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta.
A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. 

Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito.
 E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. Os sertanejos

 são assim, pessoas fáceis de amar, porque estão cheias de vazio.
 E é no vazio da distância que vive a saudade. Há mais, muito mais,
 para o Natal do que luz de vela e alegria.
É o espírito de doce amizade do sertanejo do meu santuário, que brilha

todo o ano. Meu santuário, onde estão as minhas joias Gastão e Margarida,
 meu pai com 90 anos e minha mãe com 86, é reino de consideração e
 bondade.
É a esperança renascida novamente, para paz, para entendimento,

 e para benevolência dos homens.
Neste Natal, que no meu santuário o amor de Deus e o amor dos seres

 humanos prevaleçam acima de todo o ódio e amargura. Afinal, Natal é
 um tempo em que nossos pensamentos, ações, e o espírito de nossas 
vidas manifestam a presença de Deus.
Se há alguém ainda que não acredite em Deus e não enxerga no

 espírito natalino o símbolo da vida, que venha ao meu santuário. 
Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, temos provas da 
existência de Deus: a intensa luz do sol, que brilha o ano inteiro.

Escrito por Magno Martins, às 19h05

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