domingo, 9 de dezembro de 2012

A FALÊNCIA DO ESTADO DE DIREITO


A FALÊNCIA DO ESTADO DE DIREITO

Por Carlos Chagas
Conforme os jornais da semana, em São Paulo e no Rio,  conclui-se ser  desleal a concorrência entre o estado de Direito e o crime organizado. Porque,  se procurar emprego honesto, um jovem desfavorecido economicamente, com pouca ou nenhuma escolaridade, morador da favela,  encontrará  no máximo  o salário mínimo.  Caso decida aderir aos bandidos que  controlam e até infernizam sua vida,  disporá de muitas vezes a merreca que a honestidade lhe oferece. 
                                    Quando  ingressa nas polícias militares e até  nas forças armadas, é  tentado pelos barões do crime organizado a  transferir seus conhecimentos bélicos ao narcotráfico. Além dos vencimentos, geralmente parcos,  dados pelas corporações oficiais,  poderá receber dos bandidos   um abono bem superior.   Conseguindo inscrever-se numa quadrilha qualquer, seja como “instrutor”, “avião”, “soldado” ou  “fogueteiro”, sua remuneração poderá  chegar a dez vezes a oficial, e por  semana. Precisará ser aprovado em diversos “cursos”, como “informação”,  “guerra na selva”, “guerrilha urbana”, “tiro”,  “natação em esgoto” e similares. Depois, o céu é o limite, se tornar-se “gerente”, “empresário”,  “controlador de ponto de venda de drogas” e até “chefe”. 
                                Dá para o humilhado, desprezado e indignado  menino hesitar?  Do poder público sofre apenas o abandono e a truculência, quando a polícia sobe o morro. Do narcotráfico, proteção para ele e sua família, remédios, alimentação, até ajuda em dinheiro  para velórios e festinhas de aniversário. Seus valores são outros, ainda que o risco, infinitamente maior. Mas o que tem a perder o indigitado jovem, senão a própria vida, para a qual dedica  importância relativa?
                               Essa realidade explica porque o crime organizado cresceu, ultrapassou a periferia,  desceu o morro e começou  a dominar o asfalto.
                               Fazer o quê, do lado de cá? Os policiais que não se corrompem ganham bem  menos do que seus adversários. Sofrem  mais, até porque boa parte deles obriga-se a morar nas favelas, mesmo escondendo sua condição profissional e sua farda. Em termos de armamento, perdem sempre. Para não falar na permanente intranqüilidade. Muitos ingressam nas milícias, engodo logo desvendado, pois elas  utilizam os mesmos métodos dos criminosos, explorando as comunidades e submetendo-as a constrangimentos parecidos,  tudo dependendo da altura   em que se encontram os casebres: mais para cima, submetem-se ao narcotráfico. Na subida do morro, às milícias.
                               Solução   não dispõem as autoridades, registrando-se a contaminação da bandidagem junto a parte dos contingentes instalados nas favelas para pacificá-las.  É a falência do estado de Direito. 
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