quarta-feira, 7 de março de 2012

Piso salarial do professor: drama dos municípios?

Piso salarial do professor: drama dos municípios?
Julio Lossio *
“Tenho observado a inquietude da grande maioria dos prefeitos com o novo piso salarial dos professores. Os municípios, na sua grande maioria, estão com os cofres no limite e, evidentemente, buscam socorro no governo federal, que estipulou o piso e, portanto, deve ajudar no seu custeio. Mas será esta lógica verdadeira? Dentro do atual modelo no qual está estruturado nosso sistema educacional, sim. Modelo esse estruturado e organizado em dois grandes pilares: falta de estrutura e desordem.
Se não, vejamos:
Qual padrão construtivo das nossas escolas? Ninguém sabe. Escolas podem estar em qualquer lugar, de qualquer tamanho, com qualquer número de alunos. O importante é que atenda aos compromissos políticos e, evidentemente, quanto mais escolas melhor. Assim mais lideranças são prestigiadas e o resultado que mais importa é o das urnas, não do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Secretarias de Educação repleta de professores em funções administrativas, professores com formação em licenciatura que, de repente, com um único movimento de edição de portarias viram gerentes, diretores, superintendentes, coordenadores e assim por diante. Importante parcela dos professores logo que passam no concurso descobrem que sua vocação não está na sala de aula, mas sim nas áreas administrativas, seja da Secretaria de Educação ou qualquer outra, desde que longe da sala de aula.
E os sindicatos? Fortes e organizados viraram ‘braços’ de partidos políticos e para estes a defesa da classe é secundaria em relação ao resultado das próximas eleições. O importante é agradar individualmente e garantir ao professor o direto de não ficar preso à sala de aula, afinal, ter que suportar 30 ou 35 crianças em sala de aula é sacrifício demais.
Estará a solução no ‘socorro financeiro’ do governo federal? Que tal termos escolas públicas com estrutura física e número de alunos semelhantes aos das melhores escolas privadas? Vamos propor escolas com 18 salas de aula e com média de mil alunos. Teremos em cada escola cerca de 20 professores (em sala de aula) e mais cerca de cinco educadores voltados para a gestão pedagógica, o que totaliza 25 profissionais com dedicação aos aspectos pedagógicos do ensino.
Assim sendo, a partir do repasse per capta/aluno feito pelo FNDE, podemos ter: 1.000 (mil) alunos vezes R$ 1.800,00/ano igual a R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais) que, dividido por doze meses, chegaremos a R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) mensais. Por lei, devemos investir 60% do salário com educadores e, por conseguinte, teremos 60% de 150 mil reais igual a R$ 90.000,00. Se dividirmos esses 90 mil reais por 25 professores teremos um salário bruto mensal de R$ 3.600,00. Teríamos ainda cerca de 60 mil reais para serem utilizados na gestão administrativa da escola. Se assim procedêssemos certamente não estaríamos discutindo piso salarial, estaríamos sim discutindo resultados.
Em Petrolina iniciamos um processo de reestruturação da rede. Já construímos 150 novas salas de aula ampliando nossas escolas, poderíamos ter feito 15 escolas novas de 10 salas. Eleitoralmente talvez o melhor caminho, como política educacional a manutenção do desastre.
Tomemos como exemplo nossa capital Recife, que possui cerca de 70 mil alunos distribuídos em 211 escolas. Numa cidade com cerca de 200 km² poderíamos ter apenas 70 escolas com mil alunos, escolas estas localizadas a, no máximo, mil metros da casa desses alunos, o que certamente traria um ganho de qualidade pela melhoria salarial, controle e planejamento. Enfim, os recursos seriam de fato destinados ao aprendizado de nossas crianças.
Temos áreas para construção de escolas em locais estratégicos? A resposta é sim! Se podemos desapropriar áreas nobres para construção de estradas, pontes e viadutos, também podemos para a construção de pontes entre a ‘ignorância’ e o conhecimento. Usei Recife como exemplo por ser nossa capital, não é minha intenção ser candidato em nossa capital.
Nos últimos três anos aprendi que para ser prefeito temos três pré-requisitos fundamentais: conhecer a cidade, viver e querer viver na cidade, além de amar a cidade e não o cargo.
Que possamos pela Educação melhorar nossas cidades.
Cada vez mais desanimado com os políticos.
Cada vez mais animado com as políticas públicas.”

* Julio Lossio é prefeito da cidade de Petrolina
blog de magno martins

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