domingo, 21 de abril de 2013

O Pastor de Copacabana


O Pastor de Copacabana

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Oi, Povo Católico.
Na última quinta-feira, na Missa do Crisma, Papa Francisco, em mais uma grande homilia nos disse:
“O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. Daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, em vez de serem pastores com o cheiro das ovelhas, pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens.”
Monsenhor AbilioDiante destas palavras, peço licença a vocês para prestar uma última homenagem a um grande pastor.  Quero falar sobre Monsenhor Abílio Ferreira da Nova, meu pároco por mais de 30 anos, falecido ontem, vítima de câncer.
A idade já ia avançada…  como ele mesmo dizia: “era um velho padre”.  E era mesmo…  com toda a sabedoria e experiência que esse título sugere.
Foi um grande administrador: finalizou a construção da Paróquia de N. Sra. de Copacabana (um prédio de 11 andares), hoje, uma das mais movimentadas da América Latina.  Foi ecônomo da Arquidiocese por mais de uma década.  Fundou a Rádio Catedral, a maior rádio católica do Rio de Janeiro.
Um grande pároco: fundou 96 pastorais e atendeu com carinho e dedicação à uma comunidade na área mais populosa do Rio, com quase 700.000 habitantes!
E um grande… português:  ah sim… isso era algo que impactava principalmente quem não o conhecia.  Sorriso sincero, rispidez às vezes incompreensível e liturgia impecável, além de todas as manias que os ibéricos carregam consigo (eu que o diga… tenho um monte delas).
nossa senhora de copacabanaMas ele era grande mesmo como pastor.  Sabia do que seu rebanho precisava.
Certa vez, em procissão pela avenida principal (cujo nome é N. Sra. de Copacabana), olhava para o mar infindável de janelas e soube encontrar as histórias por trás dos vidros.  Dizia: “Dentro desses apartamentos, temos muitos idosos sozinhos, abandonados. Provavelmente passando fome e necessidade”.  Criou um verdadeiro exército para ir a cada apartamento de Copacabana, e todos os meses gastava mais de um milhão em cestas básicas e auxílio aluguel, para que essas pessoas não passassem fome nem fossem parar nas ruas.  Fazia o mesmo pelos que precisavam de remédios.
Criou também uma forma de vender roupas usadas, mas em perfeito estado.  Tudo muito barato. Questionado sobre o porquê de não serem gratuitas, respondeu que“não queremos dar roupas. Queremos dar dignidade. Se a pessoa paga, mesmo alguns centavos, ela conquista algo para si em vez de receber esmola”.
Era formado em duas faculdades, uma delas, Direito.  Isso foi fruto de um grupo de estudo que montou com jovens da paróquia que queriam estudar para o vestibular.  Levou tão a sério que fez a prova junto com eles, passou e, diante da insistência do grupo, fez toda a faculdade…
Monsenhor AbilioSua rispidez ibérica já evitou um suicídio. Ao perder a mãe, uma mulher desesperada se jogou na frente dos carros tentando se matar.  Ao ver a cena, Mons. Abílio desceu as escadas da paróquia e, sem a menor cerimônia, agarrou a mulher, deu-lhe duas bofetadas e ordenou que subisse e assistisse a Missa.  Isso já tem 20 anos e ela nunca mais deixou de segui-lo.  Ouvi a história da própria “vítima”.
Sem falar em um amigo meu que dormiu por mais de 24h, após receber uma bênção dele.  A coisa devia estar feia… Mas tem o efeito contrário também: uma mãe, que chegou desesperada à Igreja com seu filho sem pulso e sem respiração, viu a criança acordar e chorar logo após a imposição das mãos.
Muitas coisas pra lembrar… não vou esquecer de como ficava feliz ao gritar “Aleluia! Cristo Ressuscitou!”, enquanto aspergia o povo na Vigília Pascal…
Enfim, foram muitas histórias dentro de uma grande história.  Agora ele se foi para junto do Senhor.
E que Deus nos envie mais pastores assim… com cheiro de ovelhas.
Muito obrigado, Monsenhor.

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