terça-feira, 15 de outubro de 2013

Papas insensatos da Renascença – Sisto IV Por Paulo Ricardo em 15/10/2013

Papas insensatos da Renascença – Sisto IV


game_thronesE aí meu povo,
O tema dessa nova série de posts é possível de ser resumido em uma palavra: insensatez. Foi ela que permeou os pontificados dissolutos dos seis papas da Renascença, pelos quais, ainda pagamos hoje. Foi por meio dela que o papado deu um tiro no próprio pé, preparando o terreno fértil em que as ideias de Martinho Lutero seriam semeadas, germinadas e difundidas.
Nosso corte temporal é um período de 60 anos: de 1470 a 1530 foram oito papas, mas somente seis deles nos interessam. São eles Sisto IV, Inocêncio VIII, Alexandre VI, Júlio II, Leão X e Clemente VII. Os outros dois não serão analisados, apenas citados, isso porque um ficou no Trono de Pedro apenas 26 dias e outro estava mais para cativo do que para Papa.
Pode-se considerar muito da loucura desses 60 anos resultado direto do exílio de Avignon, no século XIV. Esse fato foi o responsável pela politização da Santa Sé, de acordo com suas conveniências. Os reinos europeus ficavam vendendo sua lealdade para um ou outro lado, a partir do cisma de 1378 – que estabeleceu um papa em Roma e outro em Avignon. Os papas caíram direitinho no jogo dos príncipes, envolveram-se em suas querelas e o resultado não podia ser outro que não o desastre total.
Quando a Santa Sé foi definitivamente restaurada, em Roma, no ano de 1430, os papas haviam se tornado príncipes ao modelo dos governantes de Gênova e Veneza – pirata da perna de pau, do olho de vidro, da cara de mau.
Durante a Renascença, o ideal de renúncia cristã foi abandonado, substituído pelo individualismo, que minou a submissão à palavra de Deus. Disso, resultou uma enlouquecida decadência do comportamento humano. Claro que coexistiam com a decadência moral a decência e a piedade. Tanto é que, caso assim não fosse, ninguém ia se importar com os escândalos da Santa Sé.
Aposto que seu professor de História, se tinha alguma coisa boa a falar dos Papas da Renascença, foi o fato deles serem patronos das artes – principalmente nos casos de Júlio II, Leão X e Clemente VII. Com relação a isso, “Seu professor de História NÃO mentiu pra você” ao caracterizá-los como puros humanistas. Eles são lembrados pelo mundo mais como patronos das artes do que como pastores das ovelhas do Cristo. Essa postura rendeu frutos patrimoniais e artísticos – nem tudo foi bola fora – mas, em matéria espiritual, esses papados foram uma bizarrice só.
Bem, vamos ao primeiro:
Papa SISTO IV
Na fase da Igreja que se iniciava depois dos problemas ocorridos durante o Papado de Avignon, esse foi o primeiro papa a aplicar a Lei do Gérson (“Gosto de levar vantagem em tudo. Certo?”). A sua eleição foi devida à hábil politicagem do seu, do meu, do nosso RODRIGO BÓRGIA, futuro Papa Alexandre VI.
Pessoalmente, Sisto era destemido. Destemido em seu mau-caratismo, diga-se de passagem. Era um nepotista contumaz e, para alimentar sua numerosa família nas tetas da Santa Sé, aumentou o Colégio Cardinalício. Em treze anos de pontificado nomeou 34 novos cardeais (o limite naquela época era de 24). A extravagância passou a ser característica da corte papal.
nepotismo
Uma família de novos ricos – os Della Rovere – ganhou destaque nesta época. Um deles, inclusive, viria a ser um dos Papas da Renascença e mecenas de Michelângelo. Muitas vozes levantaram-se contra os desmandos, principalmente os financeiros. Sisto então criou a Câmara Apostólica, formada por 100 advogados, responsável pelos interesses financeiros dos Estados Papais.
Teria Sisto sido tão ruim assim? Bom, houve coisas boas em sua administração. Ele revitalizou a Biblioteca do Vaticano, reabriu a Academia Romana e – seu principal legado – iniciou a construção da Capela Sistina, aquela que imortalizaria seu nome (sacou? SISTINA). Também inaugurou hospitais, igrejas e várias importantes reformas na Cidade Eterna. Era, realmente, um homem de seu tempo. Como tal, conduziu guerras – contra Veneza e Ferrara.
Mas de todos os seus atos, há um em particular que chama a atenção, pelas feições de romance policial barato: a dita Conspiração Pazzi, que pode ter sido posta em movimento pelos Salviati, banqueiros de Sisto, aliados aos Pazzi. A finalidade era matar os irmãos Médici – Juliano e Lourenço. O plano foi posto em prática na Páscoa de 1478. Juliano morreu, mas Lourenço escapou e, com o apoio do Rei de Nápoles, buscou vingança. O sangue jorrou: os Pazzi foram assassinados por Lourenço e sua turma, e arcebispo de Pisa, um Salviati, foi linchado até a morte.
chefao
A resposta do Papa Sisto IV não foi nada sutil. Excomungou não só Lourenço, mas toda a cidade de Florença. O desinteresse do Papa com questões espirituais, preferindo ocupar-se de questões seculares, fez aumentar o clamor pela convocação de um Concilio. Clamor esse que o Papa desconsiderava.
No último ano de sua vida, foi oferecido a Sisto um razoável programa, vindo de Tours (França), para combater o reformista Jean de Rely, que inflamava o povo contra o papa (é meus amigos, Lutero não era o único maluco, aliás, não se pode dar a ele nem a pecha de original).
Jean de Rely denunciava as questões fiscais, mas principalmente a prática ad commendam que, em Direito Canônico significa transferir um beneficium (terras aráveis, por exemplo) em confiança à guarda de um patrono. Acontece que essas transferências eram realizadas sem que o patrono, depois de entrar em posse dos bens, cumprisse com seus deveres para fazer o bem em questão prosperar. Tínhamos, então, verdadeiros vampiros, que sugavam o povo até não poder mais. Se o Papa resolvesse acabar com essa prática nefasta, teria muitos de seus erros menosprezados. Mas ele não o fez.
Poucos meses depois, morre Sisto IV. Para comemorar, os romanos entraram num período loucura total que durou cerca de duas semanas. Tumultos, saques e estupros pra todos os lados, tudo sob o patrocínio dos Colonna, perseguidos durante os dias de pontificado de Sisto e doidos para dar o troco. Lembram deles? Não? Ora, titio então vai recapitular brevemente a genealogia até agora dos posts dos Papas: a família Colonna era um ramo dos Tusculum, ligados aos TEOFILACTO, da triste lembrança dos Papas Sérgio III e João XII (ambos da casa dos Tusculum). Pareceu que os tristes dias do século X haviam retornado.
Acredito que, para aqueles que buscam a sua salvação em Cristo, esses posts aumentarão a certeza de que existe somente uma Igreja sob a governança do Espírito Santo: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Ela, que outrora aturou um Sérgio III, um João XII, um Libério, e depois sobreviveu aos Papas da Renascença, não será destruída jamais.
O nome do livro em que eu me baseio é “A Marcha da Insensatez”, de Bárbara Tuchman. Ao final desses posts teremos uma pequena bibliografia pra aqueles que quiserem se aprofundar mais no assunto.
Por enquanto é só meus amigos. No próximo post falaremos do Papa Inocêncio VIII. Fiquem na paz de Deus!
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