EXCLUSÃO INADMISSÍVEL
Por Carlos Chagas
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, jura que não foi ele, mas alguém da mesa diretora determinou que se realizasse de portas fechadas a sessão de eleição do deputado Marco Feliciano para presidente da Comissão de Direitos Humanos, ontem. Pior do que a escolha de um parlamentar declaradamente racista e homofobico foi a discriminação. Mantiveram o povo fora de sua casa, ou de uma de suas dependências, para evitar o constrangimento da identificação ao vivo dos responsáveis por essa aberração. Depois, reclamam da má vontade da imprensa diante do Legislativo. Uma proibição desse quilate só foi suplantada pela invasão da Câmara por tropa armada, nos idos de 1966. Porque se é para evitar tumultos e depredações que volta e meia acontecem, existem as salvaguardas naturais praticadas pelo serviço de segurança. Mas impedir que manifestantes infensos a uma nomeação espúria possam protestar precisamente em nome dos direitos humanos?
O tal deputado-pastor tem todo o direito de ser votado, assim como teriam Paulo Maluf, Jair Bolsonaro, o Tiririca e outros estranhos espécimes dessa fauna produzida pela democracia. Até porque, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara significa muito pouco no contexto dos trabalhos legislativos. O precedente da proibição de presença popular, no entanto, é profundamente perigosa. Se alguém dos grupos insurgentes ultrapassa os limites da educação, do bom senso e da civilidade, deve ser excluído. Generalizar a exclusão, porém, sinaliza para tempos deformados capazes de chegar com data marcada.
EXAGEROS
O escancarado ingresso de Eduardo Campos na campanha presidencial exprime um direito dele. Já se reúne com empresários paulistas para preparar o caixa, ao tempo em que se reúne com líderes de pequenos partidos e prepara viagens por todo o território nacional, buscando tornar-se conhecido além das fronteiras do Nordeste. Vai procurar equilibrar-se entre o apoio que seu partido dá ao governo Dilma Rousseff e a necessidade de dissociar-se da candidata à reeleição. Não será fácil, mas impossível não é. Afinal, a presidente necessita do respaldo do Partido Socialista no Congresso e da compreensão de todos os governadores para suas realizações.
O que chama a atenção é essa dupla face do governador pernambucano. Até quando conseguirá manter-se com um pé em cada margem do rio?
LOTAÇÃO ESGOTADA
O avião presidencial voou lotado para Caracas, ontem, parte das homenagens do governo brasileiro á memória de Hugo Chaves. Até o Lula dividiu com a presidente Dilma, pela primeira vez, o uso da aeronave oficial. Ministros, assessores e convidados especiais lotaram suas dependências, dando trabalho à tripulação. No retorno, hoje à noite esperam-se inconfidências a respeito das atividades a bordo. Muita conversa terá sido trocada, acima e além das observações a respeito do ilustre morto e da comoção causada em toda a Venezuela.
EXCESSO DE ECONOMIA?
Os velhinhos do Senado não gostaram nem um pouco da mais recente iniciativa do presidente Renan Calheiros, de extinguir o serviço médico da casa. É claro que todos os senadores e suas famílias estão cobertos por amplos planos de saúde, mas a verdade é que muitos dispunham como seus atendentes permanentes dos 28 médicos agora afastados e distribuídos pelo SUS. Permanecerá apenas o serviço de urgência, de pronto-socorro, mas já se cuida de um esquema especial de atendimento aos idosos pais da pátria. Talvez por conta disso o Congresso possa prestar mais atenção à deficiência dos planos de saúde que sacrificam seus assinantes comuns.
POLITEÍSMO DISFARÇADO
As três principais religiões do planeta se dizem monoteístas, quer dizer, o Padre Eternos, Jeová e Alá são os únicos deuses para cristãos, judeus e islamitas. O problema é que a Igreja Católica afrouxou os laços do dogma fundamental, tamanho o culto milenar a tantos santos espalhados por seus templos e altares. A imensa maioria dos cidadãos comuns reverencia esses santos como se fossem pequenos deuses, ainda que o Vaticano explique tratar-se da lembrança que merecem tantos expoentes da fé e da doutrina. Não seria hora de o futuro Papa, sem cassar nenhum santo, situar o conjunto em seu merecido mas devido lugar?
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