Lutero e suas 95 teses. Um Che Guevara de batina?
“Quando vou para cama, o diabo está sempre me aguardando.”
Martinho Lutero (em um dia bom)
E aí meus amigos, continuemos nossa viagem pela vida e obra do monge maluco.
O evento considerado como pedra fundamental do protestantismo foi a fixação no pórtico da Igreja do Castelo de Wittenberg das 95 teses criticando a ortodoxia católica. Esse ato de rebeldia, segundo a Tia Teteca, teve como motivador a venda de indulgências realizadas em território chucrute; os “comerciantes” seriam monges dominicanos liderados pelo frade dominicano Johann Tetzel, sob ordens do famigerado Cardeal Arcebispo de Magdenburgo – Albrecht von Hohenzollern.
Já escrevi isso em outro post, e repito aqui: historiador marxista e pilantra (pleonasmo) sempre reduz tudo a grana. Então, neste caso, o argumento financeiro é o seguinte: o Cardeal Albrecht, para “pagar” um dos muitos títulos que conseguira da Santa Sé, teria adquirido junto à Casa Fugger (banqueiros famosos na Alemanha, espécie de família Salles que comia strudel) a quantia de 10.000 mil ducados; uma grana preta. E, para quitar a dívida, nosso amigo cardeal estaria fazendo esse comércio nefasto.
O frei Tetzel, como bom puxa-saco, fez a vontade do Cardeal Albrecht. A Tetzel é atribuído um discurso, pra dizer o mínimo bizarro, realizado na Praça de Juterberg:
“Considerai que todos os que se arrependem e confessam, e que tiverem contribuído, receberão a remissão total de todos os seus pecados . Ouvi as vozes de vossos caros parentes e amigos mortos dizendo: ‘tende piedade de nós, tende piedade de nós, estamos num horrível suplício, do qual podeis nos libertar por uma ninharia. Lembrai-vos de que sois capazes de redimi-los, pois tão logo a moeda no cofre cai tilintando, a alma no purgatório sai voando.’ Não ireis, então, por alguns trocados, receber estas bulas de indulgências, através das quais sereis capazes de guiar uma alma imortal e Divina para a Pátria do Paraíso?”
Alguns camelôs da Central do Brasil (Rio de Janeiro), no trajeto Central-Japeri, soam menos fajutos.
Ao que parece, Tetzel, além de pilantra, era muito burro, pois, sendo religioso dominicano, não sabia exatamente o que eram indulgências. Muitos dos nossos leitores desconhecem exatamente o que sejam indulgências e como funciona a sua concessão. Por conta disso, fazemos agora uma breve esclarecimento.
O que é a indulgência?
Nada mais é que o perdão, DADO POR DEUS, das penas temporais devidas pelo pecados que cometemos. Vejam que para que a indulgência seja concedida é necessário que o pecado tenha sido CONFESSADO E PERDOADO. Como falei, esse perdão é DIVINO; DESSARTE, NÃO PODE SER VENDIDO NEM COMPRADO. Deus não está nem aí pra contas a pagar do cardeal Albrecht.
Todo pecado carece, mesmo após a confissão e o perdão ministrado, da penitência. É na penitência que provamos nosso arrependimento e nossa disposição em não mais pecar. Deus no perdoou através da confissão mas, pelo bem da justiça e reparação do dano causado, devemos pagar a penitência. Diante disso, a conclusão óbvia que chegamos é que o monge Tetzel e Cardeal Albrecht, além de serem dois sem-noção, são simoníacos (comerciantes de bens espirituais).
Quem quiser saber mais sobre indulgências, acesse o nosso post “Perdão X Indulgência – Você sabe a diferença?“.
Afixação das 95 teses, a lenda
Bem, afixar as 95 teses no pórtico do templo é uma atitude que, para o leigo, o desavisado ou o burro panfletário, demonstra que Lutero era um cabra macho, macho o suficiente para afrontar a Igreja e dar tapa na cara de Satanás. Mas será que este ato realmente aconteceu?
Afixação das 95 teses, a verdade
Historiadores modernos e não panfletários, como Gottfried Fritzer (“O que Lutero Realmente Disse?” – Ed. Civilização Brasileira, 1971. Para variar, fora de catálogo), Erwin Iserloh e Klemens Houselmann afirmam que essa afronta nunca aconteceu e que, além da fraca obra de Janus, a origem dessa lenda seria um relato de um criado puxa-saco do próprio Martinho Lutero.
Na verdade, suas 95 teses teriam sido apresentadas para discussão segundo a tradição universitária. Lutero era boçal, pedante e safado, mas era professor de uma universidade. A tese desses historiadores, que mostra um tipo com reflexões intelectuais e teológicas a serem discutidas é mais condizente com o contexto social, religioso e acadêmico no qual Lutero estaria inserido. Vamos refletir: seria mais lógico, realmente, que ele seguisse os trâmites estabelecidos ou a imagem construída por Janus e seus asseclas, que o transformaram num Che Guevara de batina?
E o Papa nesta história?
Até agora falei das figuras fuleiras (hoje estou realmente pleonástico) de Lutero, Tetzel e Albrecht, mas ainda não escrevi uma única palavra sobre o que o Papa da época – Leão X – falou a respeito falou sobre a questão da venda de indulgências, nem esclareci qual foi o seu papel nesse circo de horrores. Estou contextualizando e apresentando os fatos históricos, antes de mais nada.
A Resposta – a verdadeira, e não a versão que a “Tia Teteca de Saião” ensina na escola dominical aos seus crentinhos – estará na nossa próxima postagem desta série. Também falaremos do Papa mecenas que foi o último a ver a cristandade una na Europa Ocidental.
Fiquem com Deus e perseverem na fé.
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