Rio São Francisco pode ser extinto, diz biólogo |
![]() Alerta da mais alta relevância para todos os brasileiros, particularmente nordestinos publica hoje o jornal Folha de S.Paulo, dando conta daquilo que já habitava há muito na imaginação do povo desta região: o risco, ou riscos que ameaçam o São Francisco, o chamado rio da unidade nacional, agredido secularmente de todas as maneiras, e agora sob ameaça de desaparecimento. Ante a importância da reportagem, ela vai reproduzida abaixo, matéria produzida por Daniel Carvalho, do jornal paulista: O professor integra a equipe da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), em Petrolina (PE), contratada pelo governo federal para fazer o inventário da flora e da fauna ao longo de todo o trecho da obra. O resultado encontrado no rio e nos 469 quilômetros de canais está no livro 'Floras das Caatingas do Rio São Francisco: História Natural e Conservação' (Andrea Jackobsson Estúdio). Leia os principais trechos da entrevista.
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Folha - O título do primeiro capítulo do livro assusta: 'A extinção inexorável do rio São Francisco'. Como vocês identificaram esse processo e por que o consideram inexorável?
Se as coisas continuarem do jeito que estão, quanto tempo o São Francisco ainda tem?José Alves Siqueira - Eu fiz uma pesquisa minuciosa sobre todos os problemas históricos que ocorreram no São Francisco desde o seu descobrimento. A gente teve um dos rios mais piscosos do país. Com as barragens [Três Marias, Sobradinho, Paulo Afonso e Xingó], a gente perdeu todos aqueles peixes que sobem as corredeiras para se reproduzir. O São Francisco é o rio mais barrado do Brasil. A gente não tem como fazer um cálculo preciso. O processo está em curso, o rio está sofrendo profundamente com o desmatamento de suas matas ciliares. Qual a participação da transposição neste processo? Existe um passivo ambiental da obra, em torno de R$ 20 milhões, R$ 25 milhões. Esse recurso deve ser usado para implementar unidades de conservação. Podemos transformar o problema da transposição numa oportunidade. Na prática, como a obra da transposição está colaborando com o processo? Ainda não temos as respostas claras. A gente encontrou 62 espécies exóticas invasoras, que não são da flora brasileira, já nas áreas do canal. Quando ela [a invasora] chega, ocupa espaço de espécies nativas e provoca destruição das outras. O senhor é favorável à obra? A gente não está discutindo se é a favor ou contra porque a obra já está em curso. Hoje o nosso papel é tentar mitigar os impactos. Os impactos existem. [Mas] o que a gente pode fazer para tornar isso razoavelmente viável? O senhor fala que ainda tem muito a se avançar nesse processo de mitigação dos impactos. Como? Algo para ser feito em caráter emergencial [é] a implementação dos programas de recuperação de áreas degradadas. As grandes empreiteiras têm obrigação de implementar esses planos de recuperação. Isso não está acontecendo. Quando oferecem a possibilidade de fazer, fazem com espécies exóticas invasoras. A gente tem um conjunto de oportunidades que não pode perder vista. Não teremos uma segunda oportunidade. Não há nada de sensacionalista nisso. Não é uma crítica gratuita. Qual o papel dessa estiagem prolongada no Nordeste neste processo de extinção do rio? É mais um agravante porque a demanda por água aumenta. Os bancos de areia no São Francisco estão cada vez maiores. A gente está vivendo um processo de aquecimento global e a caatinga é o lugar do Brasil mais suscetível a essas mudanças climáticas. |
"Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15).
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Rio São Francisco pode ser extinto, diz biólogo
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